sexta-feira, 8 de março de 2013

Diário de mãe: os 2 anos

Os dois anos são um marco importante no desenvolvimento de uma criança. É quando a gente percebe que não tem mais um bebê em casa e, sim, um menininho. No meu caso, a proximidade dos dois anos trouxe alguns avanços importantes: fralda agora só para saídas mais longas ou para dormir. A segunda mudança foram noites muito melhor dormidas.

A proximidade dos dois anos também tornou possível nossa primeira viagem de avião para mais longe. Nosso menino já come direitinho em restaurante, o que era uma dificuldade há uns meses atrás. Claro, tem que ter o básico, arroz, feijão e carne pra isso, mas as possibilidades de comer fora de casa com esse pequeno detalhe aumentaram de forma exponencial.

A linguagem já está bastante desenvolvida agora. Ele já fala frases inteiras e mais complexas, como " A fumiga subiu na mamãe." (a formiga subiu na mamãe) ou "vovó tá na casa dele". Ainda erra o gênero, mas se comunica bem. Sabe pedir algumas coisas que quer como "quer fazer xixi", "mamãe faz papá". Entende o "esse pode" e o "esse não pode". Também aprendeu a dizer onde dói. Essas coisas somadas, fazem parecer a vida de mãe praticamente o paraíso, em comparação ao post do primeiro mês há longínquos 2 anos atrás. Longínquos, sim, pois a pessoa que sou hoje é muito diferente da mãe apavorada daquele primeiro mês e que ainda não se enxergava como mãe de verdade.


Atualmente, o programa preferido do guri é ir a aniversários. Ele sabe que vai encontrar piscina de bolinhas e cama elástica, seus brinquedos preferidos. Sim, aniversários, não são mais como no meu tempo. A ausência desses brinquedos para as crianças nas festas hoje é o mesmo que a ausência de brigadeiro do nosso tempo. Na saída, a gente não leva mais um balão, mas sim lembrancinhas personalizadas. Enfim, foi difícil explicar dias atrás que a festa tinha acabado e que no dia seguinte não ia ter festa de novo.

Estou percebendo que a socialização está iniciando. Meu menino tem preferência pela companhia dos coleguinhas da escolinha ao de crianças desconhecidas. Ele, inclusive, já os chama pelo nome e fica bem feliz quando esses o acompanham nas brincadeiras, fazendo o mesmo que ele está fazendo.

Não houve festa no aniversário de 2 aninhos, mas houve bolo e, ao contrário do ano passado, ele tinha plena consciência do que se passava a sua volta. Assoprou a velinha umas 10 vezes, cantou parabéns e sabia que era o dia do aniversário dele e não dos outros amiguinhos.

É com alegria que digo, pois, que agora é que a diversão está começando.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Depois que a dor passar


Levei algum tempo para escrever sobre o incêndio em Santa Maria porque queria fazer isso sem o impacto da emoção. Fui diretamente envolvida pela tragédia, pois um primo em segundo grau, Ruan, faleceu lá. Difícil entender como a morte escolhe pra levar um guri querido, estudioso, tímido, super apegado aos pais, que tinha entrado numa universidade federal pelo próprio mérito aos 16 anos e poderia ter um futuro brilhante. Um guri que era filho de gente batalhadora (não rica, como vi em alguns comentários maldosos), que acordava de manhã e ia trabalhar pra poder proporcionar a ele o que não teve. Mas agora, passado mais de um mês do fato e depois de toda a repercussão que as 240 mortes tiveram, começo a pensar que o Ruan e os outros jovens deixaram de ter um suas próprias vidas para, quem sabe, entrar para a história, o que de certo modo os eternizará.

O que o tempo não trará, todavia, será uma cura para a dor dos pais e familiares próximos. Essa durará enquanto eles viverem. Ou sobrevirerem. Em tragédias como essa e em outras similares o que vemos é a comoção imediata da opinião pública, de autoridades que visitam familiares e prometem providências, o clamor por punições. Depois, o tempo passa e a vida continua. Uma das frases do filme "Um sonho de liberdade" (meu filme preferido) diz assim: "Get busy living or get busy dying". Traduzindo, seria algo como "ocupe-se de viver ou ocupe-se de morrer". Quer dizer, a vida tem que continuar mesmo e isso é uma coisa boa, já que a segunda opção não parece ser a mais sábia. Só acho que coisas como essas já aconteceram tantas vezes que deveríamos ter aprendido algo. E parece que não.

Hoje, só se fala em punir culpados e em indenizar as famílias. E aí entra a minha crítica. Indenizar, nesse caso, não vai amenizar a dor de ninguém. É possível, inclusive, que as pessoas se sintam culpadas por aceitar um dinheiro (se ele vier) em virtude da morte de um filho, como se a vida desse filho tivesse um valor financeiro. Culpados? Adianta condenar os donos da boate e integrantes da banda? Houve negligência da parte deles? Parece que sim. Mas só fizeram o que 90% dos empresários da noite fazem. Provavelmente viram outros fazer antes e "nunca dar em nada". A única diferença é que os outros foram brindados com melhor sorte. Quantas vezes já me vi em lugares superlotados em que sabia, conscientemente, que não conseguiria sair se fossem incendiados ou se um maluco entrasse atirando? A negligência é do Estado, é dos empresários, mas é nossa também, que nunca denunciamos superlotação e que um dia já achamos 'maneiro' entrar num lugar onde não se consegue nem respirar direito, quem dirá dançar.

Não pense, todavia, que eu acredite que devemos apenas esquecer. Na verdade, não podemos esquecer. Há 50 anos, um incêndio em um circo em Niterói, matou mais de 500 pessoas, 70% crianças. As causas? Segundo o escritor Mauro Ventura do livro "O espetáculo mais triste da Terra", foram material inflamável, ausência de extintores e saídas de emergência, além de grades dificultando a saída. Não parece ser mera coincidência. Perguntei aos meus pais, que eram jovens na época se lembram do fato e eles não recordam. Não se encontra muita coisa na Internet sobre o assunto. Quer dizer: optou-se por esquecer e, esquecendo, aconteceu de novo. Infelizmente é preciso punir, pagar indenizações e mudar leis porque é a única forma de construir um legado palpável.

O maior aprendizado que essa tragédia pode trazer, porém, é algo que jamais poderá ser medido e que pode levar muitos anos pra ser percebido. Um sobrevivente, dias atrás, falou o seguinte para o site G1: “As pessoas param de brigar por bobagens. Uma amiga que não falava comigo há dois anos veio se desculpar. Caras que não se davam bem por causa de mulheres deixaram as brigas de lado. As pessoas perceberam que a vida é muito curta e somos muito vulneráveis”. Outro disse isso para o Jornal Zero Hora: "Tem alguma missão muito especial para eu fazer aqui na Terra."

O que quero dizer é: muitos jovens estavam lá e sobreviveram a isso. Outros não estavam, mas perderam amigos ou familiares. Esses jovens, um dia, estarão na posição de quem toma decisões. Muito cedo, esses jovens tiveram a chance de perceber que NADA, mas NADA, tem mais valor do que a vida humana. E entender esse pequeno detalhe é o primeiro passo para construir uma comunidade, uma cidade, um país, em que pessoas de diferentes opiniões, credos ou times de futebol possam conviver em harmonia. Ou pelo menos com tolerância. Como diz outra frase do meu filme preferido: "A esperança é uma coisa boa... talvez a melhor coisa. E tudo o que é bom nunca morre". Deposito, então, minha esperança para que desta vez a gente aprenda.