sábado, 16 de janeiro de 2021

Mãe, como o bebê vai pra dentro da barriga?

 - Mãe, tem uma coisa que eu não consigo entender. Antes de existirem hospitais e tecnologia, como os bebês iam parar dentro da barriga?

Eu trabalhava em casa tentando acertar uma query SQL com um erro bizarro, quando Henrique, meu filho de pouco menos de dez anos fez a assustadora pergunta.

Há muito tempo ele sabia que era um bebê de proveta. Desde pequeno eu respondia a esse tipo de pergunta com "no teu caso a doutora pegou um pedacinho do papai e um da mamãe, juntou e te colocou na minha barriga". Esse assunto inclusive já foi motivo de bullying dele com o irmão mais novo. Quando eles brigavam, ele o ameaçava, dizendo que o caçula  ficaria congelado de novo. Então o natural pra ele é que os bebês fossem colocados pra dentro da barriga por um médico.

Acontece que, nesse ano, ele passou a se interessar muito por história. E aí se deu conta que medicina e tecnologia são coisas recentes na história da humanidade. Logo, os bebês deveriam vir pra dentro da barriga de outra forma.

- Bom, o modo natural dos bebês nascerem é o pai e a mãe namorarem - respondo, ansiosa pra voltar pro meu SQL que a essa altura não parece tão complicado.

Ele suspira. Não, a conversa não terminaria  aí.

- Mãe, isso eu sei, que tem uma sementinha do pai e da mãe e blá, blá. O que eu quero saber é como que namorando o bebê vai pra dentro da barriga?

Agora quem suspira sou eu. Sabe piloto, quando tem que decidir se pousa ou arremete num lapso de segundo? Deve ser igual. Mas, enfim penso que ele já tem quase dez anos e a pergunta foi bem direta. Acho que não tem escapatória. Explico.

Ele ouve, abre a boca em sinal de surpresa e, em seguida, faz uma expressão de nojo.

- Mas mãe, só quem faz bebê assim é quem não pode pagar o tratamento né?

Criança não é o ser mais adorável do planeta?


sábado, 27 de abril de 2019

O cara que não é 100%

Recentemente assisti um seminário no qual foi apresentado o seguinte dado: 82% dos empregados de uma empresa não estão dispostos a dar aquele algo mais pela firma. O dado foi apresentado como alarmante, uma estatística que o bom líder precisa reverter.

Não é preciso muita inteligência para concluir, então, que 18% dos funcionários estão dispostos a sacrifícios diversos pela empresa. Acho isso ótimo, acho que estes funcionários devem ser recompensados, é justo que atinjam os cargos executivos, etc e tal. O que não me parece correto é entender que os outros 82% são um problema a ser resolvido.

Você assina um contrato de trabalho. Lá estão suas obrigações, sua carga horária e a contraprestação pelo seu trabalho. Você cumpre a carga horária. Você desempenha seu trabalho de forma satisfatória e eficiente. Mas você não está disposto a trabalhar 60 horas por semana, nem a viajar no domingo de manhã pra Cacimbinhas do Oeste. Você faz o trabalho para o qual foi contratado e as teses de gestão empresarial entendem que você é o indivíduo a ser conquistado.

Graças a Deus não vivemos mais na primeira era industrial. Trabalho não é mais o fim último da vida de um cidadão. Então, como agora existem leis trabalhistas, as teorias empresariais tentam lhe convencer que todo mundo precisa dar mais do que o máximo por uma empresa da qual sequer é acionista. Isso pode fazer sentido se você tem vinte e poucos anos... basta um puff, uma máquina de salgadinhos e uma mesa e esnúquer no meio da sala de trabalho e você aceita qualquer desafio.

Só que as teorias empresariais esquecem que, com a reforma da previdência que se aproxima, daqui a algum tempo teremos muito mais trabalhadores de 50 anos do que de 20. A maturidade, a menos que você se torne o cara que dá as palestras sobre empreendedorismo, faz com que você aprenda a valorizar o tempo para ficar com a sua família, praticar exercícios físicos, tocar um instrumento ou simplesmente ficar jogado no sofá assistindo sua série favorita a partir das 18h. Não me parece que algo esteja errado com você. Errado é tentar convencê-lo de que pra ser um profissional de sucesso você precisa dar muito mais do que aquilo para o qual foi contratado.

Ah, mas se você estiver disponível para trabalhar às 2h da manhã do feriado de Natal, você poderá levar o seu filho no médico quando ele ficar doente numa segunda-feira à tarde. Pois bem, se você tiver que trabalhar em uma empresa onde seu superior imediato entenda que só profissionais diferenciados podem levar o filho ao médico durante o horário de expediente, é porque pouco evoluímos desde o fim da escravidão.

O bom líder não é aquele que faz com que 95% dos funcionários deem o algo a mais pela firma. O bom líder é aquele que contrata o número de profissionais adequado à necessidade da empresa e coordena o trabalho de modo que todos façam aquilo para o qual foram contratados, no tempo para o qual foram contratados. O resto é só teoria.

sábado, 7 de maio de 2016

Dia das mães

Quando eu tinha 5 anos dizia que teria três filhas. Decerto tinha alguma amiga com duas irmãs e achava lindo. Até então eu era filha única e achava uma chatice não ter irmãos.

Com 18, eu dizia que seria mãe ainda que não encontrasse um pai. Na realidade eu nunca tive esse sonho de casar, ter um marido e cozinhar pra ele. Mas ainda sabia que queria ser mãe... de pelo menos uma criança.

O tempo passou, eu escolhi trabalhar em uma profissão na qual passava longos dias e finais de semana sentada em frente ao computador. O tal pai também não se fazia presente e era uma época em que não se podia comprar material genético pela internet. O sonho de ser mãe foi ficando esquecido.

Lá pelos 30, o pai apareceu e nós estávamos felizes levando uma vida despreocupada. Trabalhávamos bastante, eu corria, ele jogava o voleizinho, férias viajando pro exterior, feriadões de viagens locais, trilhas no meio do mato e até, de vez em quando, almoçando (crianças tapem os ouvidos) sorvete.  A gravidez não vinha e eu nem sabia mais se valia a pena ter um filho num país em que provavelmente ele teria muito menos oportunidades do que tive. A vida estava boa, eu não tinha do que reclamar.

Então, muito mais por medo de arrependimento futuro, nós tomamos uma decisão: faríamos um tratamento, uma única tentativa de ter um filho. Se não desse certo, tudo bem. Se desse, tudo bem também.

Deu muito certo.

Não fui daquelas criaturas que "curtiu" a gestação. Pra mim ela era um mal necessário pra que o bebê nascesse. Achava legal ver a minha barriga mexendo pra lá e pra cá como se tivesse um alienzinho nela. Mas, no resto, tudo me incomodava: não poder correr, não poder caminhar rápido, não conseguir dormir muito tempo na mesma posição, ter que apoiar as pernas pra trabalhar, comer só um pouquinho e já sentir o estômago estourando.

Meu primeiro filho levou longas 40 semanas e 3 dias pra decidir vir ao mundo. E quando ele finalmente nasceu eu percebi que, não importa o que te digam, você nunca está preparada pro que vem a seguir.

Quando ele nasceu, senti um misto de orgulho e medo. Orgulho de ver aquela coisinha linda, perfeita, bebezinho de comercial de fraldas descartáveis na minha frente. Medo porque ele chorava... e como chorava. E aí, você olha pro lado e percebe que aquela coisinha é sua responsabilidade. Não tem ninguém pra chamar, você vai ter que se entender sozinha com ele.

O meu primeiro mês como mãe foi narrado aqui: http://anelisec.blogspot.com.br/2011/04/diario-de-30-dias-como-mae.html . Hoje, olho pra trás e lembro de tudo rindo, até porque ser mãe é que nem videogame, o nível 1 é o desafio básico, e conforme aumenta o nível, aumenta o desafio... Mas, sério, na época eu ainda estava procurando a felicidade suprema que as pessoas descreviam. Porque, sim, o amor é imediato e ele existe desde o primeiro instante em que você olha pra aquela criaturinha. Mas entender o significado de felicidade sendo mãe demora um pouco mais.

Os meus filhos nunca foram bonzinhos. Não dormiam a noite toda. Eram exigentes e eu não sou dada a ler como pais franceses educam seus filhos.

Eles faziam manha. Tinham refluxo. Vinham dormir na cama da gente. Teve uma fase em que o Fê só comia arroz com feijão... e desde que o feijão ficasse separado do arroz. Empacavam no meio da rua. Destruíram o sofá, os fios do telefone, da internet e da TV. E não adiantava arrumar a casa. Pra que mesmo arrumar a casa?

Hoje, sujam quatro mudas de roupa por dia. Quando finalmente me sento depois de dar a janta pra eles, pedem suco. Querem o mesmo carrinho, ainda que outros 15 estejam por perto. Chamam às 3h, às 4h, às 5h da manhã. O mais novo ainda faz xixi na cama. Quando estão juntos, eles se arrastam e rolam pelo chão. Reclamam do lanche. Reclamam do tema. Reclamam de não poder ver TV. Reclamam que querem minha atenção. Querem me contar todos os detalhes do desenho que assistiram pela milésima vez. Querem que eu assista o desenho pela milésima vez com eles.

Metade do tempo estou preocupada com a educação deles. Na outra metade, com o mundo que eles terão. Se eles batem no coleguinha, digo “não se resolve as coisas com briga”. Se eles apanham, tenho que ensinar a se defenderem. Se eles querem só brincar de uma coisa, ensino a aceitar a brincadeira dos outros. Se eles só seguem os outros, tenho que ensiná-los a ter opinião própria.  

Questiono-me diariamente se sou uma boa mãe. Porque sempre parece que a minha foi muito melhor, que não dou atenção suficiente pra eles e que, se eles mordem o colega, a culpa é minha.

Então um dia olho pra um deles e pergunto: por que Deus te deu essa mãe e não outra? E ele, na sabedoria de seus cinco anos, me responde: porque essa era a mãe "mais boa" pra mim. Aí meus olhos se enchem de lágrimas e penso que apenas pra viver esse breve e efêmero instante de felicidade, faria tudo de novo. De todos os papéis que já cumpri na vida, o mais importante, sem a menor sombra de dúvida, é ser mãe. Um feliz dia para todas as mães de sangue e de coração!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O segundo filho

Quando uma amiga se torna nova mãe, sempre digo a mesma coisa: os primeiros 30 dias são terríveis, mas passam. Falo isso pelos conselhos que eu própria ouvi e também pelo que passei com o meu primeiro filho e que relatei no passado aqui no blog.

O fato é que com o segundo filho não senti da mesma forma. Ainda estou dentro do chamado período caótico, mas está tudo relativamente tranquilo (até demais). Eu diria que se não fosse o comportamento do mais velho, que voltou a ser bebê em alguns aspectos, tudo estaria sob controle. Experiência? Em parte. A outra parte é um bebê bonzinho. Como essa segunda parte não é possível controlar, vou passar as dicas do que tem funcionado bastante com o nosso segundinho.

1) Enrolar o bebê para dormir. No nosso caso, como é verão, muitas vezes ligamos o ar condicionado para que ele fique enrolado. Percebemos que isso ajuda bastante a manter o sono do bebê, porque muitas vezes eles se assustam dormindo, abrem os braços e aí percebem que há espaço em excesso. Então acordam e choram, não necessariamente nessa ordem.

2) Não sair do quarto para amamentar à noite. No meu primeiro filho, eu tinha o hábito de ir pra sala, ligar a TV e luz pra que eu não dormisse enquanto amamentava. O resultado é que ele acordava bem, não identificava que ainda era noite e custava a dormir novamente. Desse modo, ele adormece novamente enquanto mama ou logo em seguida, porque tudo é escurinho e silencioso (deixamos uma lâmpada de abajur acesa somente).

3) Trocar o bebê antes da mamada. Isso ajuda ele a estar mais acordado no momento de mamar, então acaba mamando mais e mais rápido. Se ele mama meio dormindo, mama pouco e em seguida acorda novamente porque sente fome novamente.

4) Não acostumá-lo a dormir sendo embalado. Embalo só se ele está desesperado e chorando há pelo menos uns 20 minutos.

Outra coisa que pra nós tem ajudado bastante é dar 3 gotinhas de Simeticona (Mylicon, Luftal) antes de dormir. Claro que não aconselho ninguém a sair dando remédio pro seu bebê sem falar com o pediatra antes, mas no nosso caso, observamos que ele tinha muitos gases, especialmente à noite. A partir da quarta semana de vida, ele passava a noite inteira resmungando e se contorcendo no berço. Então, antes de dormir hoje ele toma remedinho pra refluxo (que ele tem desde que nasceu), as gotinhas e, quando percebo que o nariz está meio entupido, ainda coloco um Sorine ou Rinossoro pra que respire melhor. Ele ainda se contorce um pouco, mas são raras as noites em que acorda mais de uma vez. O normal dele é mamar em torno das 9h30min da noite, depois entre 3h e 4h da manhã e aí só pela manhã.

Uma coisa que meu primeiro filho teve apenas depois que começou com alimentação sólida, foi horário certo para mamar. Esse está funcionando quase que como reloginho de duas semanas pra cá. Mama 6 vezes por dia, em horários que quase sempre são os mesmos.

Então, tirando a barriga que está demorando mais pra voltar ao normal, pra quem quer tentar um segundinho, eu diria que tudo parece bem mais fácil.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

2013: um ano difícil e o nosso pequeno milagre

Este 2013 que está indo embora foi um ano bastante difícil para a minha família. Perdemos entes queridos e outros adoeceram gravemente. Mas o balanço que fica desse ano não é negativo. O final dele está me mostrando que só se conta a batalha como perdida quando chega realmente o final. E a pequena história de vida do meu segundo filho está aí pra mostrar isso.

Quem me conhece mais de perto sabe que tive muita dificuldade para engravidar do meu primeiro filho. Nós tivemos que optar por um tratamento que produziu mais embriões do que queríamos. Então, os mais "bonitos" (usando as palavras da minha médica) foram transferidos. Daí nasceu meu primeiro filho. Os demais ficaram congelados.

Meu segundo filho não era um desses embriões bem bonitos. Mas ele ficou lá, quietinho, durante quase 3 (três) anos a espera de que nós decidíssimos tentar novamente. E tentamos.

Em uma terça-feira, tive a confirmação da gravidez. A alegria durou pouco, porque já na quinta da mesma semana tive um sangramento forte. Que persistiu nos dias seguintes. O bebê ainda estava vivo, mas eu tinha um hematoma subcoriônico, que é uma espécie de deslocamento do saco gestacional. Quando esse hematoma é pequeno, geralmente regride em poucos dias. O meu era enorme, quase do tamanho do embrião. As chances da gravidez prosseguirem não eram boas. E mesmo que prosseguissem, os artigos da Internet me diziam que as chances de ter um parto prematuro ou um deslocamento de placenta mais adiante eram enormes.

Troquei de obstetra, por motivos que nem vou relatar aqui.

Esse hematoma ainda aumentou por duas semanas. Semanas de repouso absoluto, em que não podia sequer explicar pro meu filho mais velho as razões pelas quais ele não podia ganhar colo. Então, ele regrediu. E na semana seguinte sumiu. Era a décima-primeira semana de gestação. Alívio!

Menos de um mês depois, uma sinusite. Morrendo de medo, tive que tomar antibióticos. Logo depois disso, a pior gripe que já tive na minha existência. Mais antibióticos. Antes do final da gripe, uma tosse que durou meses e nada fazia passar. Remédio para asmático, sem que nunca tivesse tido asma na vida. E o bebê lá, firme.

Com 33 semanas de gravidez, coceira insuportável, o que fez minha obstetra suspeitar de colestase obstétrica, uma doença hepática que traz riscos para o bebê. Mais angústia até sair o resultado do exame de sangue. Não era. Só uma baita alergia mesmo.

Então, com exatas 38 semanas, num sábado pela manhã, a bolsa rompeu. O problema é que não havia nenhuma dor ou contração. Só água escorrendo. O parto seria cesárea. Até aí tudo bem, o meu primeiro parto também teve que ser por ausência de dilatação. O problema é que meu primeiro parto foi rapidíssimo. Esse começou a demorar e eu a ficar angustiada. Possivelmente guardarei pra sempre na memória o interminável intervalo de tempo em que ouvi a médica pedir fórceps e o momento em que ouvi o choro do meu filho.

E ele nasceu bem. Mais sujinho e roxinho do que o irmão, mas saudável, forte e com bons pulmões. É um menino bonzinho, que adora dormir, mas sabe fazer valer sua vontade quando a fome aperta.

Por tudo isso, meu recado pra 2014 é esse: enquanto há vida, há esperança. Um 2014 de muita esperança pra todo mundo!

sábado, 26 de outubro de 2013

Ser ou não ser mãe

O caderno Donna da Zero Hora de 20/10/13 trazia uma matéria sobre a tendência de mais e mais casais não terem filhos. Trazia também vários depoimentos de pessoas que fizeram essa opção.

Durante muito tempo estive incluída nesse grupo. Na verdade, com 20 anos eu dizia que seria mãe aos 30, independente de ter ou não um parceiro. Com 30, eu já tinha um companheiro legal, mas achava que ainda não era hora. Com 32, iniciamos algumas  tentativas e como as naturais foram infrutíferas, tomei a decisão de não ter filhos, porque me parecia que não tinha muito instinto maternal mesmo, já que achava as crianças lindinhas, porém não tinha paciência pra ficar 24 horas em torno delas.

Um pouco antes de fazer 36, eu e meu marido tivemos uma conversa séria e decidimos tentar um tratamento, muito mais pelo nosso medo de arrependimento do que propriamente por vontade de ter um filho naquele momento. Eu continuo achando que a natureza é cruel com nós mulheres, porque temos que ter filhos nos nossos melhores anos. Se pudesse adiar, teria deixado pra ser mãe lá pelos 45, mas infelizmente nessa idade as possibilidades são muito menores. Engana-se quem diz que hoje a mulher pode ser mãe quando quiser. Com seus próprios óvulos, apenas um pequeno percentual consegue engravidar depois dos 40.

Pois bem, concordo com quase tudo o que foi dito na matéria da Zero Hora. Não ter filhos simplifica bastante a vida. Eu diria que, se você tiver saúde, não tendo filhos a sua vida vira uma "barbada". Você pode, por exemplo, decidir trocar de profissão aos 40, sem grandes traumas ou medos. É possível viajar muito mais, estudar mais, ler mais livros, todas coisas
que amo fazer. É possível chegar em casa, depois de um dia extenuante de trabalho, se atirar no sofá e não fazer absolutamente nada. Ou decidir, de última hora, ir naquela última sessão de cinema. Acredito até que um casamento tem muito mais chance de dar certo sem filhos, porque você pode se dedicar quase que inteiramente àquela relação. Enfim, acredito que é possível ser plenamente feliz sem filhos. Eu era bastante feliz e acho que, tirando alguns momentos de pressão familiar, continuaria sendo bem feliz.

Todavia, posso dizer que a experiência de ser mãe mudou quase que totalmente a pessoa que eu era. Poderia até dizer que me tornou uma pessoa melhor, mas isso faria parecer que mães são mulheres melhores, o que não é uma verdade absoluta. Ser mãe foi, pra mim, sim, a experiência mais impactante pela qual passei em termos de amadurecimento pessoal. Ser mãe me tornou mais desprendida, mais tolerante, muito menos egoísta. Ser mãe me tornou menos impulsiva e mais corajosa. Não aquela coragem que me fez saltar de paraquedas em uma ocasião, e sim aquela coragem pra falar o que me incomoda ou pra calar diante do perigo. Ser mãe me tornou mais preocupada em fazer a coisa certa, mesmo que seja a mais difícil. Ser mãe me ensinou a cuidar mais de mim mesma, para que eu tenha condições de cuidar de outra pessoa. Ser mãe faz a gente ser menos filha. Fez sentir-me verdadeiramente adulta e orgulhosa de mim mesma, ao ver que sou capaz de cuidar de alguém que depende de mim.

O próprio significado da palavra felicidade muda quando a gente é mãe e é por isso que não vemos muitas mães arrependidas por aí. Há dias em que você não dorme direito, não come direito, não tem tempo pra si, mas sente uma espécie de "redenção" em tudo isso. Você faz coisas que não são pra você sem esperar nada em troca e esse é pra mim o maior significado de amor verdadeiro. E sendo bem honesta, eu jamais tinha sentido algo assim antes de passar pela experiência da maternidade.

Então, me perdoem aquelas que são felizes sem serem mães. Eu realmente acredito na felicidade de vocês. Porém, agradeço todos os dias por ter tido a oportunidade de passar por essa experiência. E não é porque acho meu filho lindinho e especial (como todas as mães acham). É porque ele me ensinou que se doar pra alguém não é sacrifício, mas uma das formas mais plenas de felicidade.

domingo, 14 de julho de 2013

A arte de não sentir saudade

Esquecida no fundo de uma gaveta estava uma antiga foto, do ano de 2000. Era uma foto conjunta de toda a equipe da empresa em que trabalhava na época, uma empresa em formação, mas que pertencia a um grande grupo já estabelecido. Um de seus maiores projetos na época era justamente aquele do qual participei: um portal de internet que hoje é um dos mais conhecidos do estado, o clicRBS.

Senti uma felicidade imensa ao ver aquela foto. Mas não foi uma felicidade de saudade. Eu não consigo sentir saudade daquela época. Explico: sinto imenso orgulho de ter trabalhado por quase 9 anos naquela empresa, assim como me orgulho de cada trabalho, voluntário ou remunerado, que tive. Sinto orgulho das 12 horas de trabalho por dia, dos feriados e finais de semana perdidos e até mesmo das muitas madrugadas em que fui acordada por algum problema técnico ao longo daqueles anos (ainda que contrariada). Só que isso não é saudade. Saudade é um sentimento que pressupõe sentir falta de algo ou de alguém. Sinto saudade de duas amigas queridas que se foram precocemente, sinto saudade dos meus avós e tios que se foram e também da jovem sonhadora que fui um dia. Mas não sinto saudade daqueles anos. Foram sim, uma parte importante da minha vida, feliz em muitos momentos, triste em outros. Foram anos que fizeram de mim quem sou hoje e me trazem boas memórias. Só. Passou. Nova fase.

Vejo diariamente no meu trabalho (e que fique claro, não estou falando especificamente da empresa que mencionei antes) pessoas que ficam plantadas por 20, 30 anos na mesma empresa e vestem a camiseta de tal modo que se sentem donas daquilo. Fazem alianças estranhas, provocam demissões ou mudanças de cargo de colegas ou simplesmente não admitem que alguém faça qualquer comentário crítico a respeito de nada, como se tivessem a obrigação de trabalhar num lugar perfeito, mesmo que o mundo lá fora esteja desmoronando. Um dia elas se aposentam ou simplesmente vão embora, mandam um e-mail emocionado enumerando seus feitos lá dentro e esperam as honrarias. Só que no dia seguinte à sua despedida, já há outra pessoa ocupando aquele posto e a vida segue, como se aquele ser jamais tivesse existido.

Veja bem, não estou aqui dizendo que ninguém deve ser comprometido. Pelo contrário. A arte de não sentir saudade pressupõe, quem sabe, trabalhar muitas horas, dedicar-se com afinco a uma tarefa, desentender-se com alguém. Ou não. O importante é fazer aquilo que é certo, ou que pelo menos parece ser naquele momento. Muitas vezes estive trabalhando, enquanto meus amigos festejavam. Em outras ocasiões, repreendi subordinados, briguei com colegas, aceitei soluções que sabidamente não eram boas, mesmo contra a minha consciência, apenas porque parecia ser o correto. Analisando pra trás hoje, vejo que não guardo grandes arrependimentos. Quiçá por isso não haja saudade.

Há pessoas que dirão que eu nunca construirei nada com esse meu pensamento. Pode ser. O que me traz maior felicidade de ter construído não foram os sites ou softwares que desenvolvi ou coordenei. Até porque eles não serão perenes. O código que me deu o maior trabalho no ano de 2002 e ao longo dos anos seguintes está morto desde 2008. O que me traz maior felicidade mesmo é ver que, poucos anos após esse ano 2000, mais especificamente a partir de 2004, dei oportunidade a algumas pessoas de entrar no mercado de internet. Pessoas que hoje são grandes profissionais. Também me traz felicidade saber que trabalhei com algumas das pessoas daquela foto, pessoas que continuo admirando. Mas não saudade.

Talvez o maior segredo de não sentir saudade seja justamente a renovação. A vida não pode ter uma única meta ou foco. Meu projeto atual é muito diferente daquele de 13 anos atrás. É ajudar uma criaturinha a entender e encontrar seu lugar nesse mundo maluco, sempre respeitando o direito dos outros de também terem seu espaço. Em breve, se Deus quiser, serão duas criaturinhas. Estou fazendo isso de corpo e alma, sem esperar retribuição futura. E igualmente espero um dia não sentir saudade. Apenas a felicidade do dever cumprido.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Recebendo ordens de criança

Meu filho já está com 2 anos e 3 meses e a linguagem está bem desenvolvida. Ele já forma frases direitinho. Fala muito errado ainda, isso sim. Não tem jeito, por exemplo, de falar "comeu" ou "acabou". É "pomeu" e "apabou". Tablet é "pabit". A pediatra disse que essas trocas são preocupantes apenas a partir dos 4 anos. Então, por enquanto, apenas falo certo e peço pra ele repetir, mas não tem jeito. É "pomeu" mesmo.

O desenvolvimento da linguagem traz consigo um outro fenômeno peculiar. A criança começa a dar ordens. Dias atrás, enquanto observava um cachorrinho na vitrine da pet shop, ele ordenava:

- Bebe água, cachorro, vai lá e bebe pra ficar forte.

Mesmo a avó dizendo que o cachorrinho estava cansado e precisava dormir, a ordem continuava:

- Não tá na hora de naná, tá na hora de tomar água.

Hoje pela manhã, quando pedi para levantar porque iríamos a algum lugar a resposta foi pronta:

- Acho bom levar o "pabit".

Dias atrás, fomos jantar na casa de uma amiga e quase morri de vergonha quando ele estancou na frente da máquina de lavar, ordenando:

- Tem que botar mais roupa.

A máquina era um modelo avançado. Aberta na frente e não em cima, ao alcance do tamanho do guri. Imaginem só a hipnose durante metade da noite.

A conclusão é: se você só achar bonitinho e não impor certos limites agora, já era.

Também nessa fase, começa o replay interminável do mesmo desenho. Ele tem 3 ou 4 episódios do Peixonauta no tablet e os fica assistindo em loop (pros leitores não programadores, loop quer dizer repetição). Também adora outros desenhos que repetem quase que semanalmente o mesmo episódio. Agora entendo porque os canais infantis repetem tanto. Estão se adequando ao seu público.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Os trabalhinhos da escolinha e o trauma da mãe

A escolinha do meu filho recentemente mandou um "trabalhinho" para ser executado pela criança com seus pais. Veja bem: meu filho tem 2 anos, eu entendo que ele nem deveria estar fazendo trabalhinhos ainda, mas tudo bem.

O trabalhinho consistia no seguinte: a criança trouxe um boneco de pano para casa, feito de TNT com algum enchimento de espuma. O bonequinho vinha totalmente nu, ou seja, sem olhos, cabelo, nariz, boca ou roupas. A tarefa conjunta era completar o bonequinho.

Sempre tive trauma de trabalhos artísticos. Eu era péssima em qualquer coisa que envolvesse arte. Sabe aquelas crianças que criam coisas maravilhosas com argila? Eu nunca fui uma delas. Meus desenhos eram o básico: casinha, florzinha, árvore com frutas. Quer dizer, ser mãe é reviver todos esses traumas.

Sim, porque você acha que uma criança de 2 anos será capaz de costurar cabelos de lã em um boneco de TNT? Só ser for um superdotado em motricidade. Você vai dizer: "ah, mas é só colar, aí ele consegue". Pois bem, tente colar papel com cola escolar no TNT. Eu tentei em vão.

Pra resumir: passei a tarde de domingo costurando roupinhas em TNT pro boneco, depois costurando os fios de cabelo de lã do boneco, enquanto meu filho se divertia na pracinha com o pai dele, já que depois dos 2 minutos de empolgação iniciais, ele achou a tal atividade do boneco chata. Bela atividade de família. Depois a escola ainda vai expor trabalhos lindinhos feitos por crianças de 2 anos para alguns pais pensarem: "nossa, que crianças inteligentes".

Você vai dizer: "mas enfim você superou o trauma dos trabalhos artísticos". Não, não foi dessa vez que nasceu uma obra prima de arte. Melhor dizer que foi a criança de 2 anos que fez!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Diário de mãe: os 2 anos

Os dois anos são um marco importante no desenvolvimento de uma criança. É quando a gente percebe que não tem mais um bebê em casa e, sim, um menininho. No meu caso, a proximidade dos dois anos trouxe alguns avanços importantes: fralda agora só para saídas mais longas ou para dormir. A segunda mudança foram noites muito melhor dormidas.

A proximidade dos dois anos também tornou possível nossa primeira viagem de avião para mais longe. Nosso menino já come direitinho em restaurante, o que era uma dificuldade há uns meses atrás. Claro, tem que ter o básico, arroz, feijão e carne pra isso, mas as possibilidades de comer fora de casa com esse pequeno detalhe aumentaram de forma exponencial.

A linguagem já está bastante desenvolvida agora. Ele já fala frases inteiras e mais complexas, como " A fumiga subiu na mamãe." (a formiga subiu na mamãe) ou "vovó tá na casa dele". Ainda erra o gênero, mas se comunica bem. Sabe pedir algumas coisas que quer como "quer fazer xixi", "mamãe faz papá". Entende o "esse pode" e o "esse não pode". Também aprendeu a dizer onde dói. Essas coisas somadas, fazem parecer a vida de mãe praticamente o paraíso, em comparação ao post do primeiro mês há longínquos 2 anos atrás. Longínquos, sim, pois a pessoa que sou hoje é muito diferente da mãe apavorada daquele primeiro mês e que ainda não se enxergava como mãe de verdade.


Atualmente, o programa preferido do guri é ir a aniversários. Ele sabe que vai encontrar piscina de bolinhas e cama elástica, seus brinquedos preferidos. Sim, aniversários, não são mais como no meu tempo. A ausência desses brinquedos para as crianças nas festas hoje é o mesmo que a ausência de brigadeiro do nosso tempo. Na saída, a gente não leva mais um balão, mas sim lembrancinhas personalizadas. Enfim, foi difícil explicar dias atrás que a festa tinha acabado e que no dia seguinte não ia ter festa de novo.

Estou percebendo que a socialização está iniciando. Meu menino tem preferência pela companhia dos coleguinhas da escolinha ao de crianças desconhecidas. Ele, inclusive, já os chama pelo nome e fica bem feliz quando esses o acompanham nas brincadeiras, fazendo o mesmo que ele está fazendo.

Não houve festa no aniversário de 2 aninhos, mas houve bolo e, ao contrário do ano passado, ele tinha plena consciência do que se passava a sua volta. Assoprou a velinha umas 10 vezes, cantou parabéns e sabia que era o dia do aniversário dele e não dos outros amiguinhos.

É com alegria que digo, pois, que agora é que a diversão está começando.