sábado, 7 de maio de 2016

Dia das mães

Quando eu tinha 5 anos dizia que teria três filhas. Decerto tinha alguma amiga com duas irmãs e achava lindo. Até então eu era filha única e achava uma chatice não ter irmãos.

Com 18, eu dizia que seria mãe ainda que não encontrasse um pai. Na realidade eu nunca tive esse sonho de casar, ter um marido e cozinhar pra ele. Mas ainda sabia que queria ser mãe... de pelo menos uma criança.

O tempo passou, eu escolhi trabalhar em uma profissão na qual passava longos dias e finais de semana sentada em frente ao computador. O tal pai também não se fazia presente e era uma época em que não se podia comprar material genético pela internet. O sonho de ser mãe foi ficando esquecido.

Lá pelos 30, o pai apareceu e nós estávamos felizes levando uma vida despreocupada. Trabalhávamos bastante, eu corria, ele jogava o voleizinho, férias viajando pro exterior, feriadões de viagens locais, trilhas no meio do mato e até, de vez em quando, almoçando (crianças tapem os ouvidos) sorvete.  A gravidez não vinha e eu nem sabia mais se valia a pena ter um filho num país em que provavelmente ele teria muito menos oportunidades do que tive. A vida estava boa, eu não tinha do que reclamar.

Então, muito mais por medo de arrependimento futuro, nós tomamos uma decisão: faríamos um tratamento, uma única tentativa de ter um filho. Se não desse certo, tudo bem. Se desse, tudo bem também.

Deu muito certo.

Não fui daquelas criaturas que "curtiu" a gestação. Pra mim ela era um mal necessário pra que o bebê nascesse. Achava legal ver a minha barriga mexendo pra lá e pra cá como se tivesse um alienzinho nela. Mas, no resto, tudo me incomodava: não poder correr, não poder caminhar rápido, não conseguir dormir muito tempo na mesma posição, ter que apoiar as pernas pra trabalhar, comer só um pouquinho e já sentir o estômago estourando.

Meu primeiro filho levou longas 40 semanas e 3 dias pra decidir vir ao mundo. E quando ele finalmente nasceu eu percebi que, não importa o que te digam, você nunca está preparada pro que vem a seguir.

Quando ele nasceu, senti um misto de orgulho e medo. Orgulho de ver aquela coisinha linda, perfeita, bebezinho de comercial de fraldas descartáveis na minha frente. Medo porque ele chorava... e como chorava. E aí, você olha pro lado e percebe que aquela coisinha é sua responsabilidade. Não tem ninguém pra chamar, você vai ter que se entender sozinha com ele.

O meu primeiro mês como mãe foi narrado aqui: http://anelisec.blogspot.com.br/2011/04/diario-de-30-dias-como-mae.html . Hoje, olho pra trás e lembro de tudo rindo, até porque ser mãe é que nem videogame, o nível 1 é o desafio básico, e conforme aumenta o nível, aumenta o desafio... Mas, sério, na época eu ainda estava procurando a felicidade suprema que as pessoas descreviam. Porque, sim, o amor é imediato e ele existe desde o primeiro instante em que você olha pra aquela criaturinha. Mas entender o significado de felicidade sendo mãe demora um pouco mais.

Os meus filhos nunca foram bonzinhos. Não dormiam a noite toda. Eram exigentes e eu não sou dada a ler como pais franceses educam seus filhos.

Eles faziam manha. Tinham refluxo. Vinham dormir na cama da gente. Teve uma fase em que o Fê só comia arroz com feijão... e desde que o feijão ficasse separado do arroz. Empacavam no meio da rua. Destruíram o sofá, os fios do telefone, da internet e da TV. E não adiantava arrumar a casa. Pra que mesmo arrumar a casa?

Hoje, sujam quatro mudas de roupa por dia. Quando finalmente me sento depois de dar a janta pra eles, pedem suco. Querem o mesmo carrinho, ainda que outros 15 estejam por perto. Chamam às 3h, às 4h, às 5h da manhã. O mais novo ainda faz xixi na cama. Quando estão juntos, eles se arrastam e rolam pelo chão. Reclamam do lanche. Reclamam do tema. Reclamam de não poder ver TV. Reclamam que querem minha atenção. Querem me contar todos os detalhes do desenho que assistiram pela milésima vez. Querem que eu assista o desenho pela milésima vez com eles.

Metade do tempo estou preocupada com a educação deles. Na outra metade, com o mundo que eles terão. Se eles batem no coleguinha, digo “não se resolve as coisas com briga”. Se eles apanham, tenho que ensinar a se defenderem. Se eles querem só brincar de uma coisa, ensino a aceitar a brincadeira dos outros. Se eles só seguem os outros, tenho que ensiná-los a ter opinião própria.  

Questiono-me diariamente se sou uma boa mãe. Porque sempre parece que a minha foi muito melhor, que não dou atenção suficiente pra eles e que, se eles mordem o colega, a culpa é minha.

Então um dia olho pra um deles e pergunto: por que Deus te deu essa mãe e não outra? E ele, na sabedoria de seus cinco anos, me responde: porque essa era a mãe "mais boa" pra mim. Aí meus olhos se enchem de lágrimas e penso que apenas pra viver esse breve e efêmero instante de felicidade, faria tudo de novo. De todos os papéis que já cumpri na vida, o mais importante, sem a menor sombra de dúvida, é ser mãe. Um feliz dia para todas as mães de sangue e de coração!

Um comentário:

Maria luiza disse...

Lindo texto, amei ,chorei,amei.