quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

2013: um ano difícil e o nosso pequeno milagre

Este 2013 que está indo embora foi um ano bastante difícil para a minha família. Perdemos entes queridos e outros adoeceram gravemente. Mas o balanço que fica desse ano não é negativo. O final dele está me mostrando que só se conta a batalha como perdida quando chega realmente o final. E a pequena história de vida do meu segundo filho está aí pra mostrar isso.

Quem me conhece mais de perto sabe que tive muita dificuldade para engravidar do meu primeiro filho. Nós tivemos que optar por um tratamento que produziu mais embriões do que queríamos. Então, os mais "bonitos" (usando as palavras da minha médica) foram transferidos. Daí nasceu meu primeiro filho. Os demais ficaram congelados.

Meu segundo filho não era um desses embriões bem bonitos. Mas ele ficou lá, quietinho, durante quase 3 (três) anos a espera de que nós decidíssimos tentar novamente. E tentamos.

Em uma terça-feira, tive a confirmação da gravidez. A alegria durou pouco, porque já na quinta da mesma semana tive um sangramento forte. Que persistiu nos dias seguintes. O bebê ainda estava vivo, mas eu tinha um hematoma subcoriônico, que é uma espécie de deslocamento do saco gestacional. Quando esse hematoma é pequeno, geralmente regride em poucos dias. O meu era enorme, quase do tamanho do embrião. As chances da gravidez prosseguirem não eram boas. E mesmo que prosseguissem, os artigos da Internet me diziam que as chances de ter um parto prematuro ou um deslocamento de placenta mais adiante eram enormes.

Troquei de obstetra, por motivos que nem vou relatar aqui.

Esse hematoma ainda aumentou por duas semanas. Semanas de repouso absoluto, em que não podia sequer explicar pro meu filho mais velho as razões pelas quais ele não podia ganhar colo. Então, ele regrediu. E na semana seguinte sumiu. Era a décima-primeira semana de gestação. Alívio!

Menos de um mês depois, uma sinusite. Morrendo de medo, tive que tomar antibióticos. Logo depois disso, a pior gripe que já tive na minha existência. Mais antibióticos. Antes do final da gripe, uma tosse que durou meses e nada fazia passar. Remédio para asmático, sem que nunca tivesse tido asma na vida. E o bebê lá, firme.

Com 33 semanas de gravidez, coceira insuportável, o que fez minha obstetra suspeitar de colestase obstétrica, uma doença hepática que traz riscos para o bebê. Mais angústia até sair o resultado do exame de sangue. Não era. Só uma baita alergia mesmo.

Então, com exatas 38 semanas, num sábado pela manhã, a bolsa rompeu. O problema é que não havia nenhuma dor ou contração. Só água escorrendo. O parto seria cesárea. Até aí tudo bem, o meu primeiro parto também teve que ser por ausência de dilatação. O problema é que meu primeiro parto foi rapidíssimo. Esse começou a demorar e eu a ficar angustiada. Possivelmente guardarei pra sempre na memória o interminável intervalo de tempo em que ouvi a médica pedir fórceps e o momento em que ouvi o choro do meu filho.

E ele nasceu bem. Mais sujinho e roxinho do que o irmão, mas saudável, forte e com bons pulmões. É um menino bonzinho, que adora dormir, mas sabe fazer valer sua vontade quando a fome aperta.

Por tudo isso, meu recado pra 2014 é esse: enquanto há vida, há esperança. Um 2014 de muita esperança pra todo mundo!

sábado, 26 de outubro de 2013

Ser ou não ser mãe

O caderno Donna da Zero Hora de 20/10/13 trazia uma matéria sobre a tendência de mais e mais casais não terem filhos. Trazia também vários depoimentos de pessoas que fizeram essa opção.

Durante muito tempo estive incluída nesse grupo. Na verdade, com 20 anos eu dizia que seria mãe aos 30, independente de ter ou não um parceiro. Com 30, eu já tinha um companheiro legal, mas achava que ainda não era hora. Com 32, iniciamos algumas  tentativas e como as naturais foram infrutíferas, tomei a decisão de não ter filhos, porque me parecia que não tinha muito instinto maternal mesmo, já que achava as crianças lindinhas, porém não tinha paciência pra ficar 24 horas em torno delas.

Um pouco antes de fazer 36, eu e meu marido tivemos uma conversa séria e decidimos tentar um tratamento, muito mais pelo nosso medo de arrependimento do que propriamente por vontade de ter um filho naquele momento. Eu continuo achando que a natureza é cruel com nós mulheres, porque temos que ter filhos nos nossos melhores anos. Se pudesse adiar, teria deixado pra ser mãe lá pelos 45, mas infelizmente nessa idade as possibilidades são muito menores. Engana-se quem diz que hoje a mulher pode ser mãe quando quiser. Com seus próprios óvulos, apenas um pequeno percentual consegue engravidar depois dos 40.

Pois bem, concordo com quase tudo o que foi dito na matéria da Zero Hora. Não ter filhos simplifica bastante a vida. Eu diria que, se você tiver saúde, não tendo filhos a sua vida vira uma "barbada". Você pode, por exemplo, decidir trocar de profissão aos 40, sem grandes traumas ou medos. É possível viajar muito mais, estudar mais, ler mais livros, todas coisas
que amo fazer. É possível chegar em casa, depois de um dia extenuante de trabalho, se atirar no sofá e não fazer absolutamente nada. Ou decidir, de última hora, ir naquela última sessão de cinema. Acredito até que um casamento tem muito mais chance de dar certo sem filhos, porque você pode se dedicar quase que inteiramente àquela relação. Enfim, acredito que é possível ser plenamente feliz sem filhos. Eu era bastante feliz e acho que, tirando alguns momentos de pressão familiar, continuaria sendo bem feliz.

Todavia, posso dizer que a experiência de ser mãe mudou quase que totalmente a pessoa que eu era. Poderia até dizer que me tornou uma pessoa melhor, mas isso faria parecer que mães são mulheres melhores, o que não é uma verdade absoluta. Ser mãe foi, pra mim, sim, a experiência mais impactante pela qual passei em termos de amadurecimento pessoal. Ser mãe me tornou mais desprendida, mais tolerante, muito menos egoísta. Ser mãe me tornou menos impulsiva e mais corajosa. Não aquela coragem que me fez saltar de paraquedas em uma ocasião, e sim aquela coragem pra falar o que me incomoda ou pra calar diante do perigo. Ser mãe me tornou mais preocupada em fazer a coisa certa, mesmo que seja a mais difícil. Ser mãe me ensinou a cuidar mais de mim mesma, para que eu tenha condições de cuidar de outra pessoa. Ser mãe faz a gente ser menos filha. Fez sentir-me verdadeiramente adulta e orgulhosa de mim mesma, ao ver que sou capaz de cuidar de alguém que depende de mim.

O próprio significado da palavra felicidade muda quando a gente é mãe e é por isso que não vemos muitas mães arrependidas por aí. Há dias em que você não dorme direito, não come direito, não tem tempo pra si, mas sente uma espécie de "redenção" em tudo isso. Você faz coisas que não são pra você sem esperar nada em troca e esse é pra mim o maior significado de amor verdadeiro. E sendo bem honesta, eu jamais tinha sentido algo assim antes de passar pela experiência da maternidade.

Então, me perdoem aquelas que são felizes sem serem mães. Eu realmente acredito na felicidade de vocês. Porém, agradeço todos os dias por ter tido a oportunidade de passar por essa experiência. E não é porque acho meu filho lindinho e especial (como todas as mães acham). É porque ele me ensinou que se doar pra alguém não é sacrifício, mas uma das formas mais plenas de felicidade.

domingo, 14 de julho de 2013

A arte de não sentir saudade

Esquecida no fundo de uma gaveta estava uma antiga foto, do ano de 2000. Era uma foto conjunta de toda a equipe da empresa em que trabalhava na época, uma empresa em formação, mas que pertencia a um grande grupo já estabelecido. Um de seus maiores projetos na época era justamente aquele do qual participei: um portal de internet que hoje é um dos mais conhecidos do estado, o clicRBS.

Senti uma felicidade imensa ao ver aquela foto. Mas não foi uma felicidade de saudade. Eu não consigo sentir saudade daquela época. Explico: sinto imenso orgulho de ter trabalhado por quase 9 anos naquela empresa, assim como me orgulho de cada trabalho, voluntário ou remunerado, que tive. Sinto orgulho das 12 horas de trabalho por dia, dos feriados e finais de semana perdidos e até mesmo das muitas madrugadas em que fui acordada por algum problema técnico ao longo daqueles anos (ainda que contrariada). Só que isso não é saudade. Saudade é um sentimento que pressupõe sentir falta de algo ou de alguém. Sinto saudade de duas amigas queridas que se foram precocemente, sinto saudade dos meus avós e tios que se foram e também da jovem sonhadora que fui um dia. Mas não sinto saudade daqueles anos. Foram sim, uma parte importante da minha vida, feliz em muitos momentos, triste em outros. Foram anos que fizeram de mim quem sou hoje e me trazem boas memórias. Só. Passou. Nova fase.

Vejo diariamente no meu trabalho (e que fique claro, não estou falando especificamente da empresa que mencionei antes) pessoas que ficam plantadas por 20, 30 anos na mesma empresa e vestem a camiseta de tal modo que se sentem donas daquilo. Fazem alianças estranhas, provocam demissões ou mudanças de cargo de colegas ou simplesmente não admitem que alguém faça qualquer comentário crítico a respeito de nada, como se tivessem a obrigação de trabalhar num lugar perfeito, mesmo que o mundo lá fora esteja desmoronando. Um dia elas se aposentam ou simplesmente vão embora, mandam um e-mail emocionado enumerando seus feitos lá dentro e esperam as honrarias. Só que no dia seguinte à sua despedida, já há outra pessoa ocupando aquele posto e a vida segue, como se aquele ser jamais tivesse existido.

Veja bem, não estou aqui dizendo que ninguém deve ser comprometido. Pelo contrário. A arte de não sentir saudade pressupõe, quem sabe, trabalhar muitas horas, dedicar-se com afinco a uma tarefa, desentender-se com alguém. Ou não. O importante é fazer aquilo que é certo, ou que pelo menos parece ser naquele momento. Muitas vezes estive trabalhando, enquanto meus amigos festejavam. Em outras ocasiões, repreendi subordinados, briguei com colegas, aceitei soluções que sabidamente não eram boas, mesmo contra a minha consciência, apenas porque parecia ser o correto. Analisando pra trás hoje, vejo que não guardo grandes arrependimentos. Quiçá por isso não haja saudade.

Há pessoas que dirão que eu nunca construirei nada com esse meu pensamento. Pode ser. O que me traz maior felicidade de ter construído não foram os sites ou softwares que desenvolvi ou coordenei. Até porque eles não serão perenes. O código que me deu o maior trabalho no ano de 2002 e ao longo dos anos seguintes está morto desde 2008. O que me traz maior felicidade mesmo é ver que, poucos anos após esse ano 2000, mais especificamente a partir de 2004, dei oportunidade a algumas pessoas de entrar no mercado de internet. Pessoas que hoje são grandes profissionais. Também me traz felicidade saber que trabalhei com algumas das pessoas daquela foto, pessoas que continuo admirando. Mas não saudade.

Talvez o maior segredo de não sentir saudade seja justamente a renovação. A vida não pode ter uma única meta ou foco. Meu projeto atual é muito diferente daquele de 13 anos atrás. É ajudar uma criaturinha a entender e encontrar seu lugar nesse mundo maluco, sempre respeitando o direito dos outros de também terem seu espaço. Em breve, se Deus quiser, serão duas criaturinhas. Estou fazendo isso de corpo e alma, sem esperar retribuição futura. E igualmente espero um dia não sentir saudade. Apenas a felicidade do dever cumprido.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Recebendo ordens de criança

Meu filho já está com 2 anos e 3 meses e a linguagem está bem desenvolvida. Ele já forma frases direitinho. Fala muito errado ainda, isso sim. Não tem jeito, por exemplo, de falar "comeu" ou "acabou". É "pomeu" e "apabou". Tablet é "pabit". A pediatra disse que essas trocas são preocupantes apenas a partir dos 4 anos. Então, por enquanto, apenas falo certo e peço pra ele repetir, mas não tem jeito. É "pomeu" mesmo.

O desenvolvimento da linguagem traz consigo um outro fenômeno peculiar. A criança começa a dar ordens. Dias atrás, enquanto observava um cachorrinho na vitrine da pet shop, ele ordenava:

- Bebe água, cachorro, vai lá e bebe pra ficar forte.

Mesmo a avó dizendo que o cachorrinho estava cansado e precisava dormir, a ordem continuava:

- Não tá na hora de naná, tá na hora de tomar água.

Hoje pela manhã, quando pedi para levantar porque iríamos a algum lugar a resposta foi pronta:

- Acho bom levar o "pabit".

Dias atrás, fomos jantar na casa de uma amiga e quase morri de vergonha quando ele estancou na frente da máquina de lavar, ordenando:

- Tem que botar mais roupa.

A máquina era um modelo avançado. Aberta na frente e não em cima, ao alcance do tamanho do guri. Imaginem só a hipnose durante metade da noite.

A conclusão é: se você só achar bonitinho e não impor certos limites agora, já era.

Também nessa fase, começa o replay interminável do mesmo desenho. Ele tem 3 ou 4 episódios do Peixonauta no tablet e os fica assistindo em loop (pros leitores não programadores, loop quer dizer repetição). Também adora outros desenhos que repetem quase que semanalmente o mesmo episódio. Agora entendo porque os canais infantis repetem tanto. Estão se adequando ao seu público.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Os trabalhinhos da escolinha e o trauma da mãe

A escolinha do meu filho recentemente mandou um "trabalhinho" para ser executado pela criança com seus pais. Veja bem: meu filho tem 2 anos, eu entendo que ele nem deveria estar fazendo trabalhinhos ainda, mas tudo bem.

O trabalhinho consistia no seguinte: a criança trouxe um boneco de pano para casa, feito de TNT com algum enchimento de espuma. O bonequinho vinha totalmente nu, ou seja, sem olhos, cabelo, nariz, boca ou roupas. A tarefa conjunta era completar o bonequinho.

Sempre tive trauma de trabalhos artísticos. Eu era péssima em qualquer coisa que envolvesse arte. Sabe aquelas crianças que criam coisas maravilhosas com argila? Eu nunca fui uma delas. Meus desenhos eram o básico: casinha, florzinha, árvore com frutas. Quer dizer, ser mãe é reviver todos esses traumas.

Sim, porque você acha que uma criança de 2 anos será capaz de costurar cabelos de lã em um boneco de TNT? Só ser for um superdotado em motricidade. Você vai dizer: "ah, mas é só colar, aí ele consegue". Pois bem, tente colar papel com cola escolar no TNT. Eu tentei em vão.

Pra resumir: passei a tarde de domingo costurando roupinhas em TNT pro boneco, depois costurando os fios de cabelo de lã do boneco, enquanto meu filho se divertia na pracinha com o pai dele, já que depois dos 2 minutos de empolgação iniciais, ele achou a tal atividade do boneco chata. Bela atividade de família. Depois a escola ainda vai expor trabalhos lindinhos feitos por crianças de 2 anos para alguns pais pensarem: "nossa, que crianças inteligentes".

Você vai dizer: "mas enfim você superou o trauma dos trabalhos artísticos". Não, não foi dessa vez que nasceu uma obra prima de arte. Melhor dizer que foi a criança de 2 anos que fez!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Diário de mãe: os 2 anos

Os dois anos são um marco importante no desenvolvimento de uma criança. É quando a gente percebe que não tem mais um bebê em casa e, sim, um menininho. No meu caso, a proximidade dos dois anos trouxe alguns avanços importantes: fralda agora só para saídas mais longas ou para dormir. A segunda mudança foram noites muito melhor dormidas.

A proximidade dos dois anos também tornou possível nossa primeira viagem de avião para mais longe. Nosso menino já come direitinho em restaurante, o que era uma dificuldade há uns meses atrás. Claro, tem que ter o básico, arroz, feijão e carne pra isso, mas as possibilidades de comer fora de casa com esse pequeno detalhe aumentaram de forma exponencial.

A linguagem já está bastante desenvolvida agora. Ele já fala frases inteiras e mais complexas, como " A fumiga subiu na mamãe." (a formiga subiu na mamãe) ou "vovó tá na casa dele". Ainda erra o gênero, mas se comunica bem. Sabe pedir algumas coisas que quer como "quer fazer xixi", "mamãe faz papá". Entende o "esse pode" e o "esse não pode". Também aprendeu a dizer onde dói. Essas coisas somadas, fazem parecer a vida de mãe praticamente o paraíso, em comparação ao post do primeiro mês há longínquos 2 anos atrás. Longínquos, sim, pois a pessoa que sou hoje é muito diferente da mãe apavorada daquele primeiro mês e que ainda não se enxergava como mãe de verdade.


Atualmente, o programa preferido do guri é ir a aniversários. Ele sabe que vai encontrar piscina de bolinhas e cama elástica, seus brinquedos preferidos. Sim, aniversários, não são mais como no meu tempo. A ausência desses brinquedos para as crianças nas festas hoje é o mesmo que a ausência de brigadeiro do nosso tempo. Na saída, a gente não leva mais um balão, mas sim lembrancinhas personalizadas. Enfim, foi difícil explicar dias atrás que a festa tinha acabado e que no dia seguinte não ia ter festa de novo.

Estou percebendo que a socialização está iniciando. Meu menino tem preferência pela companhia dos coleguinhas da escolinha ao de crianças desconhecidas. Ele, inclusive, já os chama pelo nome e fica bem feliz quando esses o acompanham nas brincadeiras, fazendo o mesmo que ele está fazendo.

Não houve festa no aniversário de 2 aninhos, mas houve bolo e, ao contrário do ano passado, ele tinha plena consciência do que se passava a sua volta. Assoprou a velinha umas 10 vezes, cantou parabéns e sabia que era o dia do aniversário dele e não dos outros amiguinhos.

É com alegria que digo, pois, que agora é que a diversão está começando.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Depois que a dor passar


Levei algum tempo para escrever sobre o incêndio em Santa Maria porque queria fazer isso sem o impacto da emoção. Fui diretamente envolvida pela tragédia, pois um primo em segundo grau, Ruan, faleceu lá. Difícil entender como a morte escolhe pra levar um guri querido, estudioso, tímido, super apegado aos pais, que tinha entrado numa universidade federal pelo próprio mérito aos 16 anos e poderia ter um futuro brilhante. Um guri que era filho de gente batalhadora (não rica, como vi em alguns comentários maldosos), que acordava de manhã e ia trabalhar pra poder proporcionar a ele o que não teve. Mas agora, passado mais de um mês do fato e depois de toda a repercussão que as 240 mortes tiveram, começo a pensar que o Ruan e os outros jovens deixaram de ter um suas próprias vidas para, quem sabe, entrar para a história, o que de certo modo os eternizará.

O que o tempo não trará, todavia, será uma cura para a dor dos pais e familiares próximos. Essa durará enquanto eles viverem. Ou sobrevirerem. Em tragédias como essa e em outras similares o que vemos é a comoção imediata da opinião pública, de autoridades que visitam familiares e prometem providências, o clamor por punições. Depois, o tempo passa e a vida continua. Uma das frases do filme "Um sonho de liberdade" (meu filme preferido) diz assim: "Get busy living or get busy dying". Traduzindo, seria algo como "ocupe-se de viver ou ocupe-se de morrer". Quer dizer, a vida tem que continuar mesmo e isso é uma coisa boa, já que a segunda opção não parece ser a mais sábia. Só acho que coisas como essas já aconteceram tantas vezes que deveríamos ter aprendido algo. E parece que não.

Hoje, só se fala em punir culpados e em indenizar as famílias. E aí entra a minha crítica. Indenizar, nesse caso, não vai amenizar a dor de ninguém. É possível, inclusive, que as pessoas se sintam culpadas por aceitar um dinheiro (se ele vier) em virtude da morte de um filho, como se a vida desse filho tivesse um valor financeiro. Culpados? Adianta condenar os donos da boate e integrantes da banda? Houve negligência da parte deles? Parece que sim. Mas só fizeram o que 90% dos empresários da noite fazem. Provavelmente viram outros fazer antes e "nunca dar em nada". A única diferença é que os outros foram brindados com melhor sorte. Quantas vezes já me vi em lugares superlotados em que sabia, conscientemente, que não conseguiria sair se fossem incendiados ou se um maluco entrasse atirando? A negligência é do Estado, é dos empresários, mas é nossa também, que nunca denunciamos superlotação e que um dia já achamos 'maneiro' entrar num lugar onde não se consegue nem respirar direito, quem dirá dançar.

Não pense, todavia, que eu acredite que devemos apenas esquecer. Na verdade, não podemos esquecer. Há 50 anos, um incêndio em um circo em Niterói, matou mais de 500 pessoas, 70% crianças. As causas? Segundo o escritor Mauro Ventura do livro "O espetáculo mais triste da Terra", foram material inflamável, ausência de extintores e saídas de emergência, além de grades dificultando a saída. Não parece ser mera coincidência. Perguntei aos meus pais, que eram jovens na época se lembram do fato e eles não recordam. Não se encontra muita coisa na Internet sobre o assunto. Quer dizer: optou-se por esquecer e, esquecendo, aconteceu de novo. Infelizmente é preciso punir, pagar indenizações e mudar leis porque é a única forma de construir um legado palpável.

O maior aprendizado que essa tragédia pode trazer, porém, é algo que jamais poderá ser medido e que pode levar muitos anos pra ser percebido. Um sobrevivente, dias atrás, falou o seguinte para o site G1: “As pessoas param de brigar por bobagens. Uma amiga que não falava comigo há dois anos veio se desculpar. Caras que não se davam bem por causa de mulheres deixaram as brigas de lado. As pessoas perceberam que a vida é muito curta e somos muito vulneráveis”. Outro disse isso para o Jornal Zero Hora: "Tem alguma missão muito especial para eu fazer aqui na Terra."

O que quero dizer é: muitos jovens estavam lá e sobreviveram a isso. Outros não estavam, mas perderam amigos ou familiares. Esses jovens, um dia, estarão na posição de quem toma decisões. Muito cedo, esses jovens tiveram a chance de perceber que NADA, mas NADA, tem mais valor do que a vida humana. E entender esse pequeno detalhe é o primeiro passo para construir uma comunidade, uma cidade, um país, em que pessoas de diferentes opiniões, credos ou times de futebol possam conviver em harmonia. Ou pelo menos com tolerância. Como diz outra frase do meu filme preferido: "A esperança é uma coisa boa... talvez a melhor coisa. E tudo o que é bom nunca morre". Deposito, então, minha esperança para que desta vez a gente aprenda.

domingo, 6 de janeiro de 2013

1 ano e 10 meses

Nos últimos dois meses a linguagem do pequeno deslanchou de vez. Ele passa o dia inteiro feito um papagaio repetindo tudo o que a gente fala. Repete sem parar expressões como "bate bumbum" ou "não pode" ou "ador desligado" (ventilador desligado) ou "dodói tá bom" ou "dodói da mamãe tá bom". A mais bonitinha dessas expressões é "luia no céu" (lua no céu).

Ele já fala expressões de 3 ou 4 palavrinhas, o que já pode caracterizar frases simples. Creio que o máximo de complexidade que ele atingiu foi "dodói caiu na rua", para se referir que ele caiu na rua e com isso fez dodói.

Estão também começando a surgir as palavrinhas mais educadas como "culpa" e "obigada" (desculpa e obrigada). Elas surgem muitas vezes espontaneamente, sem que a gente peça pra ele dizer. Também surgem espontaneamente os beijinhos. Quando eu vejo, está ele agarrado nas minhas pernas, distribuindo beijinhos.

Parece que meu guri não vai ser muito fã do sol. Várias vezes quando sai na rua ele comenta "sol tá quente" e "não, sol", meio que pedindo para que ele vá embora. Então, pára na sombra e diz "esse bom".

Impressionante também como já nessa idade ele começa a manifestar sua opinião. Se o programa de TV não agrada, ele diz "esse chato" ou "esse ruim". Se eu dou água, ele pede "ota água", que é como ele chama o refrigerante que fica na geladeira (e que eu não dou mais que uns 6 goles).

Também não parece muito fã de praia ainda. Ele vai, brinca um pouco na areia, brinca um pouco na água e pede "simboia" (se embora). Mas gosta bastante de meter a mão no balde de água com roupa de molho. E ajuda a varrer o chão.

O fascínio pela máquina de lavar roupa aos poucos perde espaço para o fascínio por todo e qualquer tipo de ventilação. Tudo pra ele é "ador": ventiladores de teto, de chão, os cataventos do Parque Eólico e os splits. E ele pára para admirar todos eles, onde quer que estejam.