terça-feira, 18 de agosto de 2009

A extinção das cartas

Em primeiro lugar, quero dizer que não sou ninguém sem Internet, porque afinal de contas foi o meu "ganha-pão" durante mais de dez anos. Além disso, é fantástico descobrir qualquer coisa sobre filosofia grega ou sobre como manter uma horta num apartamento em minutos. Meu marido jamais teria aprendido a cozinhar sem a Internet e nós jamais teríamos viajado para Urubici se não tivesse descoberto a cidade na Internet. Enfim, eu poderia falar durante horas sobre isso, mas não é o objetivo.

O fato é que recebi recentemente (e com muita surpresa) aqui no blog a mensagem do Lauro, um amigo do qual não ouvia falar há muitos anos.

Nos anos 80, época onde Internet era algo inimaginável (eu sei que já existia, mas a Era "pré-WWW" no meu universo era algo inimaginável), havia algo chamado Correio da Amizade em revistinhas de histórias em quadrinhos. Creio que quando tinha uns 13 anos enviei o meu nome para o tal Correio e ele foi publicado. Recebi algumas cartas de amigos e troquei cartas com vários deles, de todo o país, durante algum tempo. Algumas dessas amizades duraram por toda a minha adolescência e essa pessoa que agora me encontrou foi, sem dúvida, a mais longa delas.

Eu falava dias atrás que não se trocam mais cartas, o que em grande parte facilitou a vida de todo mundo. Você manda um e-mail em dois minutos ao invés de escrever em papel, colocar em um envelope, digitar três linhas de endereço mais o remetente, selar, ir ao correio e esperar durante um mês pelo resposta. E-mail é grátis e você recebe retorno rápido e sem praticamente qualquer interferência humana.

Nós não nos surpreendemos mais de conversar com pessoas que estão em Belém ou no Japão. Na verdade nós conhecemos e descartamos pessoas com um clique. Mas nos anos 80, receber cartas de Belém, Teresina ou do interior de São Paulo, para uma adolescente que morava no interior do RS era algo muito, mas muito legal. Nós sabíamos menos sobre o mundo do que qualquer criança alfabetizada hoje e tínhamos curiosidade de saber como era em outros lugares. É provável que estas cartas tenham influenciado o fato de eu continuar gostando de escrever ao longo dos anos. E, acho que os e-mails superficiais que enviamos hoje escritos em miguxês, nos fizeram perder um pouco disso. Você não passava o trabalho de ficar na fila do correio e pagar um selo com a sua mesada para escrever duas frases em uma carta. Você pensava durante dias sobre o que iria escrever. Às vezes comprava até papel de carta. Então não adianta, cartas escritas à mão têm um encanto que e-mails e SMSs não conseguem reproduzir.

Quando era criança, algumas pessoas se lamentavam por não existirem mais bondes. Outra vez eu li uma crônica (não me recordo mais onde) em que autor lamentava que não houvesse mais o leiteiro, a deixar o leite e o pão na porta de casa de manhã cedinho. Claro que é mais prático você comprar o pão fresquinho na padaria. Imagino que o leite deveria azedar no calor e o pão gelar no inverno. E claro que ônibus são muito mais adequados ao nosso ritmo de vida que os bondes. Mas havia certo encanto. Digo o mesmo com relação à substituição de cartas por e-mails, de e-mails por sms, de sms por twitter... tudo isso aproximou as pessoas e fez você reencontrar seus velhos amigos, mas acabou-se a poesia.

PS: Se o Lauro estiver lendo, escreva pro e-mail do blog (coisasdaane@gmail.com), quero seu contato também!

Um comentário:

Lauro Matos da Cruz disse...

Puxa Ane,

Suas palavras me deixaram com os olhos marejados. Hoje é um dia muito feliz pra mim, pois recuperei uma amiga, da qual nunca esqueci e sempre quis reencontrar. No e-mail seguem meus contatos.

Um abraço bem forte pra você e toda a sua família!

Lauro.