José Saramago, um dos mais célebres escritores do nosso tempo, disse em recente entrevista para O Globo que os 140 caracteres do Twitter a refletem a "...tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido." Não sou assim tão radical com relação ao Twitter. Até tenho minha conta lá e acho que ele é ótimo para chamar a atenção para alguns assuntos. Basta colocar o link pro assunto e quem tiver interessado clica e lê. Tenho usado para divulgar os posts do blog, inclusive.
Porém, Saramago sabe o que diz. Os jovens (e muitos adultos também) tem preguiça de escrever. Não tenho dúvida de que o Twitter se popularizou justamente por causa dos tais 140 caracteres. Poucos tem talento para escrever mais do que isso hoje. Não se escrevem mais cartas. Aliás, muitos dos meus amigos têm preguiça até de escrever e-mails. Então, o Twitter é o único meio de você receber notícias (monossílabas) deles.
Mas muito mais grave do que o Twitter, é o tal do miguxês. O miguxês é uma espécie de dialeto da lingua portuguesa, utilizado principalmente por crianças e adolescentes na Internet ou em celulares, que consiste em suprimir caracteres dos textos ou trocá-los por fonemas da linguagem falada (há quem diga que as origens remontam à época do Movimento Xuxista). Se você não captou o que estou falando, visite o Dicionário Português-Miguxês. Em miguxês, uma frase como "Hoje está muito frio e chuvoso." viraria "hj tah mtu friu i xuvosu......".
O problema é que desse modo, além de escrever pouco, eles se habituam a escrever errado. Se você escreve "axo" no lugar de "acho" ou "xatu" no lugar de "chato" diariamente, vai chegar o momento em que terá que escrever um texto formal ou mesmo uma redação para o vestibular, e vai escrever desse modo. Professores, inclusive, reclamam dos textos escritos por seus alunos em miguxês que crêem que escrever desse modo seja a coisa mais normal e correta do mundo. Agora, imagine pré-adolescentes de hoje no mercado de trabalho daqui a 10 anos. O garoto vai enviar uma correspondência comercial, mais ou menos assim:
aih meu xXxapah!!!
somus 1 empreza d representassoes i temus em nossu kadru apenas profissionais altamenti kapacitadus na area d informatica i disenvolvimentu d softwares...motivu pelu kau manifestamus nossu interessi em representah-lus...kom exclusividadi...na cidadi d portu alegre......
kasu haja interessi por parti d sua empreza...kolocamu-nus a disposissaum p novus kontatus...em ke possamus detalhah nossa proposta......
agradecemus antecipadamenti a atenssaum......
vlw i t+,
fulanu d tau
E aí, sou obrigada a concordar com Saramago: estamos ladeira abaixo rumo ao grunhido.
Webex com LXC
Há 5 semanas
3 comentários:
O Miguxês é de assustar mesmo. Acho que cada vez mais os novos meios de comunicação demandam diversidade no estilo, mas isso não significa que devemos escrever errado. Precisamos apenas aprender a conviver com esses novos canais e utilizar seu potencial de forma coerente. O uso do twitter para divulgar entradas de blog por exemplo é uma forma inteligente e coerente de direcionar os esforços de comunicação. Quem se interessar pelo resumo clica e lê o resto. De qualquer forma, nada substitui uma carta aos moldes antigos. Eu costumo escrever e-mails longos, cerca de 50 por dia, em meu trabalho, e, acredite, reviso todos antes de enviar. Viva Saramago!!!
Lauro Matos da Cruz
Aproveitando o benefício dos 140 caracteres, Ane!!! Muito bom, mesmo! Também achei tocante o post sobre a extinção das cartas! Abraço e vlw!!!
Pois os chineses já provaram que este é o rumo natural das línguas! Eles, que têm um civilização há milênios, só falam em monossílabos!
Ho chin ma na fu da iê!
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