quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Censuraram a vovozinha

O Brasil é visto aos olhos do mundo como um país liberal. Mas esse mesmo país no qual as mulheres desfilam pelas praias com seus biquinis minúsculos e no qual adolescentes de 12 anos "ficam" ou "se pegam" em festinhas de garagem, rejeita um comercial de TV em que uma avó sugere que a neta (adulta) faça sexo. O comercial em questão é das sandálias Havaianas e, honestamente, da forma como o diálogo foi colocado não parece nem um pouco ofensivo.

O enredo polêmico é o seguinte: Ao verem o ator Cauã Reymond em um restaurante, o diálogo entre avó e neta se desenrola mais ou menos assim:

Avó - Você tinha que arrumar um rapaz assim.
Neta - Não sei, casar com artista deve ser chato.
Avó - Mas quem falou em casamento? Estou falando em sexo.

Abaixo o vídeo: 


Lógico que a dita rejeição do público pode ser uma jogada de marketing. O comercial continua disponível no YouTube e a própria atriz que interpreta a avó avisa, em novo comercial, que ele foi retirado devido às críticas, mas que continua disponivel na internet. Até porque, modernamente falando, ele é totalmente possível. Para quem ainda não sabe, acabou-se a era das vovozinhas que ficavam em casa tricotando e cuidando de netos. Graças a Deus, hoje as avós fazem ginástica, viajam, navegam na internet, namoram, tem o direito de achar garotões bonitos e, principalmente, conseguem conversar com suas netas sobre quase qualquer assunto. Em um país que está envelhecendo, inserir o idoso na sociedade e entender que ele pode apreciar o mesmo que um jovem não é nem uma questão de respeito ao próximo. É uma necessidade do mercado de consumo.

O que posso dizer apenas é que para um país que se considera super-democrático e que assegura a liberdade de expressão no capítulo dos direitos fundamentais da Constituição, essa suposta rejeição do público e a abertura de um processo no Conar (conselho que regulamenta a publicidade) contra o anúncio é no minimo intrigante. Será que somos assim tão hipócritas?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sobre não saber o que se quer

Existe um texto que circula na Internet, chamado "Wear Sunscreen" que teve tradução do Pedro Bial há uns 3 ou 4 anos e virou febre na época de Natal daquele ano. Eu sempre preferi o original em inglês. O texto foi uma coluna publicada no Chicago Tribune em 1997 e, mais tarde, foi transformado em música. A lógica do texto é trazer uma série de conselhos para a vida, como se fosse um discurso de formatura para quem está está saindo da escola e entrando na vida. Gosto do texto inteiro, mas uma das partes que particularmente me chama a atenção é o trecho abaixo.

Don't feel guilty if you don't know what you want to do with your life. The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don't.

Numa tradução não literal (de uma não especialista em inglês), seria algo como "não se sinta culpado se você não sabe o que quer de sua vida. As pessoas mais interessantes que eu conheci não sabiam aos 22 anos o que queriam. Algumas das pessoas mais interessantes que eu conheci ainda não sabem aos 40".

Quanto mais envelheço, e principalmente nessa época do ano em que inscrições para o vestibular estão abertas, mais acredito ser cruel um adolescente de 17 anos ter que escolher a profissão que quer para o resto da vida, sem nunca ter trabalhado e sem ter experiência nenhuma do mundo prático.

Há coisas que você vai fazer por anos até que um dia você acorda e percebe que não nasceu para fazer aquilo. Eu, por exemplo, não sei viver sem prazos. Realmente me sinto perdida sem eles, é como se estivesse navegando sem saber onde vou chegar. Então, em qualquer atividade onde eu não tenha metas e datas bem definidas me perco. Talvez seja uma das razões pelas quais me adaptei tão facilmente à advocacia. O advogado convive diariamente com metas e prazos, "sem choro, nem vela". Perdeu, azar o do seu pobre cliente. Só que eu não me conhecia suficientemente aos 16 anos, quando tive que escolher uma profissão para saber disso. Com 16 anos, eu sabia (e posso reafirmar porque mantenho meu diário da época) apenas:

  • que eu odiava hospitais, então não podia ser médica, enfermeira, bioquímica ou dentista;
  • que eu não podia ser professora (o que excluiu todos os cursos na área do magistério), porque ia ganhar muito pouco e aí não poderia viajar;
  • que eu não queria ser advogada porque era muito tímida e advogados precisam falar;
  • que eu não podia ser jornalista porque era muito tímida e jornalistas precisam falar;
  • que eu não podia fazer nada na área comercial porque não vendia nem rifa;
  • que eu não poderia ser juíza porque não seria capaz de decidir sobre a vida das pessoas;
  • que eu escrevia bem;
  • que eu ia bem na escola em todas as matérias, exceto educação artística;
  • que eu era muito descoordenada em qualquer esporte para cursar educação física;
  • que eu queria fazer um curso de 4 anos, pra poder me formar jovem e comprar um carro;

Então, falando sério, que capacidade tinha eu para decidir que curso fazer? Eu cheguei a fazer um psicotécnico e o resultado foi "é, realmente você está indecisa". Tenho consciência de que nem todos os adolescentes são como eu era, mas são muito poucos aqueles que escolhem uma profissão para a vida inteira aos 17 anos. Então, se eu pudesse deixar um legado para a humanidade (embora eu não esteja tão velha assim pra pensar que seja meu único legado) eu diria para não escolher uma profissão ao terminar o 2º grau. Trabalhe, faça inglês e vá cuidar de crianças por um ano no exterior ou se tiver que escolher, escolha qualquer coisa, mas não tenha medo de trocar com 2 anos cursados. Aliás, não tenha medo de mudar nunca, se for para fazer algo que gosta. Para algumas pessoas, a ficha vai cair com 20 anos. Para outros vai cair só depois dos 30, 40, 50. Mas talvez as pessoas mais fascinantes sejam mesmo aquelas que não sabem o que querem.

sábado, 12 de setembro de 2009

Chuva que não acaba mais

Chove há 5 (cinco) dias praticamente sem parar não só em Porto Alegre, mas em todo o estado do RS. Claro que isso faz com que a maioria das pessoas esteja de péssimo humor. Mas se serve como alento, nem Porto Alegre, nem nenhuma cidade gaúcha estão entre as mais chuvosas do mundo. Minha lista não é científica, mas talvez a quantidade de dias de chuva dessas cidades possa nos fazer pensar que somos felizes.

1) Lloró, pequena cidade da Colômbia, é provavelmente a cidade mais chuvosa do mundo, em quantidade de precipitação (a média é de 13.300 mm por ano). Tutunendo, cidade que localiza-se no mesmo departamento tem uma média de 280 dias de chuva por ano.

2) Bergen, na Noruega, é uma cidade linda, mas com uma média de 250 dias de chuva por ano também é tida como a mais chuvosa da Europa.

3) Seattle (EUA) é conhecida como uma cidade em que chove muito. Na realidade, não chove muito em quantidade, tanto que a cidade não consta de estudo que listou as 10 cidades mais chuvosas dos Eua. A questão é que Seattle apresenta nada mais, nada menos, que uma média de 226 dias nublados ou chuvosos por ano. O recorde em dias consecutivos de chuva da cidade é de 33, em 1953.

4) Vancouver (Canadá) é bastante próxima a Seattle, também fica na costa do pacífico, junto ao litoral. A cidade tem fama de chuvosa, mas possui uma média de apenas 166 dias de chuva anuais. O problema é que entre novembro e março, não é incomum que haja 20 dias consecutivos com alguma quantidade de chuva. Constatei isso pessoalmente quando fiz intercâmbio lá há alguns anos. Em praticamente todos os dias ao menos garoava. E se havia um dia de sol, no dia seguinte você tinha uma certeza: iria chover.

5) Cherrapunji (Índia), é detentora de dois recordes em matéria de chuva: a maior quantidade de chuva em um único ano (22.987 mm em1861) e a maior quantidade de chuva em um único mês (9.299,96 mm em julho de  1861). Os recordes são antigos, mas pelo que se sabe a cidade continua chuvosa. Outra cidade indiana, Mawsynram, disputa com Cherrapunji o título de mais chuvosa da Ásia.

6) Ketchikan, Alasca (EUA). Se você ficou impressionado com os 33 dias de chuva consecutivos de Seattle, ainda não viu nada. Em Ketchikan há um recorde 101 dias consecutivos de chuva, também em 1953. Para quem nunca ouviu falar da cidade, é a quinta mais populosa do Alasca (7.368 habitantes em 2007) e a cidade mais ao sul do estado americano. Acho que não é difícil entender porque tem pouco mais de 7 mil habitantes.

7) Calçoene, no Amapá, município na região do Oiapoque, com 7 mil habitantes e com uma precipitação média anual de 4.165 milímetros é a cidade mais chuvosa no Brasil. Segundo estudo da Embrapa, entre janeiro e junho, são registrados mais de 25 dias de chuva por mês.

Enfim, depois disso estou bem mais animada com meus 5 dias de chuva!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Caminhar, caminhar e caminhar


O mapa da caminhada


A primavera chegando
A bifurcação

Partimos com nossos amigos do Grupo de Caminhadas Moreira (GCM) saindo da Casa do Alecrim, em Canela, com o objetivo de alcançar o Rio Santa Cruz (de onde veríamos a face norte do Vale da Ferradura), em um trajeto denominado Passo Valentim-Rio Santa Cruz.

Chegar na Casa do Alecrim é a parte fácil. Basta pegar a estrada que leva ao parque do Caracol e seguir por ela, mesmo quando o asfalto termina. A Casa está a esquerda de quem vai, bem em frente à Capela Santa Cecília. Foi ali que deixamos os carros.

Juntamos mochilas, lanches e máquinas fotográficas e partimos, seguindo a estrada que inicia em frente à capela (ponto A do mapa). O caminho escolhido não é o tradicional. Portanto, se você decidir fazer o mesmo, esqueça a placa indicativa do Vale que existe em frente à Casa do Alecrim. Siga a estrada que inicia na capela. Se quiser o caminho fácil, esqueça tudo o que vai ler e siga as indicações das placas.

Após cerca de 6 Km, você verá uma ponte, que acompanha um córrego à esquerda. Impossível chegar de carro até ali, só caminhando mesmo. Atravessamos a ponte e seguimos até o final dessa estradinha. Ali, viramos à esquerda e continuamos. Se seguíssemos reto, dali a uns 9 Km chegaríamos ao Vale da Ferradura. Caminhada para bravos, principalmente se considerarmos que ainda havia o retorno! Mas seria o caminho mais fácil e a vista, dizem, recompensa.

Por isso mesmo, optamos por seguir a indicação de um morador do local. Após caminhar mais ou menos 6 Km, passamos por uma casa com uma pequena igreja ao lado (identificada por uma cruz a frente). Mais uns 400m e chegamos a uma bifurcação à direita, bem em frente a uma casa verde. Seguimos por ali, sempre reto. Passamos por duas cercas e chegamos a um ponto mais úmido, onde a estradinha se transformava em trilha mesmo. Segundo as indicações, se seguíssemos por ali mais um pouco chegaríamos ao rio pelo alto, de onde veríamos uma cascata. É possível descer, porém, não é uma descida fácil, segundo os moradores. Dado o avançado da hora, decidimos retornar antes de alcançar esse pedaço. Acabamos caminhando uns 20Km no total. Com muita alegria chegamos novamente à Casa do Alecrim, onde nos esperava um café com bolo e biscoitos. Destaque para o chá de sabor cítrico que é o segredo da proprietária. Adorei.

Da caminhada duas lições:
- Existe uma entrada, pouco antes de São Fracisco de Paula (na estrada entre Canela e São Chico) que nos levaria mais ou menos ao ponto
- Dificilmente se consegue chegar nesses pontos mais desconhecidos sem informação dos moradores locais (no final da caminhada, nossos amigos conseguiram essas informações, mas isso já no retorno). Só pelos mapas da internet não foi possível chegar.

A esse ponto, você pode pensar que o passeio foi uma indiada. DE MODO ALGUM. Pra quem pertence a um grupo de caminhadas e adora isso, o importante é caminhar com os amigos, ouvir o som dos pássaros, dos córregos, (tá, bom ajudamos a alimentar mosquitos também), sair do barulho da cidade, ter o contato com a natureza, desestressar e encontrar gratas surpresas. Enfim, caminhar é isso, então cumprimos nosso objetivo e voltamos com baterias recarregadas. Da próxima vez chegamos lá!