terça-feira, 29 de maio de 2012

Mau momento

Dias atrás me deparei com um texto que expressa muito bem o que aconteceu com minha família recentemente. Foi escrito por Cláudia Laitano, para a Zero Hora e publicado em 07.04.2012. Chama-se "Cair do Cavalo". Em resumo, o que ela comenta é que todo mundo um dia cai do cavalo (alguns literalmente).

Meu pai submeteu-se a uma cirurgia de grande porte semana passada. As primeiras 48 horas seriam determinantes pro sucesso. A cirurgia foi super bem sucedida, as primeiras 48 horas foram tranquilas e ele já contava com a alta da UTI no dia seguinte. Todos nós contávamos. Cheguei em casa na noite de quinta-feira feliz e aliviada. Então, na última noite de UTI, sofreu um infarto que o colocou numa situação bem mais complicada.

Agora estamos todos aqui, tentando assimilar o que aconteceu, rezando e tentando tocar a vida. Claro que como toda a desgraça vem acompanhada de desgraças menores, estamos tendo outros pequenos problemas pra resolver. E a gente fica o tempo todo pensando que o dia de amanhã vai ser melhor.

Segundo o texto que citei acima (que peço a licença para transcrever), "para Montaigne, a vida é aquilo que acontece quando estamos fazendo outros planos, e nossa atenção tem que estar o tempo todo sendo reorientada para onde ela deveria estar: aqui e agora. Cair do cavalo pode ser inevitável, mas prestar atenção na paisagem é o que faz o passeio valer a pena".

O problema numa hora dessas é tentar tirar alguma coisa de positivo sem pensar em futuro. Porque a gente passa a maior parte do tempo pensando que amanhã vai ser melhor. Aliás, ao longo dos últimos anos, tenho sempre pensado que tudo vai melhorar. Meu filho passava noites chorando enquanto bebê? Até ele completar um ano passa. Ele já está com um ano e continua a berrar. Então, penso que quando ficar um pouco mais velho passa. O trabalho está ruim? Vou passar num concurso melhor. E aí se vão mais de 3 anos no mesmo trabalho ruim e sem a menor perspectiva de um novo concurso.

Nesse tempo, se eu não prestar bem a atenção, talvez eu não perceba como é bom dormir com meu filho ao meu lado na cama e talvez esqueça que este mesmo trabalho ruim me dá a chance de ficar mais tempo com ele e também de desenvolver outros projetos, que podem não render nada financeiramente, mas que são importantes pra que me sinta útil na sociedade.

Então, por mais difícil que a situação se apresente, não dá pra pensar em ser feliz amanhã. A vida tem que seguir o seu curso e se a gente não encontrar uma forma de ser feliz com o que tem, talvez não seja feliz nunca.

2 comentários:

Ingrid disse...

Oi Ane. É incrível como tu consegue num momento de tristeza admirar as estrelas. Sinto muito pelo teu pai. E obrigada pelos teus textos: posso viver um pouquinho da vida do meu sobrinho...

Luciano Pillar disse...

Ane, belo exemplo esse teu de como ver e aprender, mesmo em momentos difíceis. Que bom quando nos permitimos aprender a estar presentes e a tirar as lições necessárias da vida. Tu estás de parabéns.

Melhoras ao teu pai!

Um abraço,
Luciano