sábado, 26 de outubro de 2013

Ser ou não ser mãe

O caderno Donna da Zero Hora de 20/10/13 trazia uma matéria sobre a tendência de mais e mais casais não terem filhos. Trazia também vários depoimentos de pessoas que fizeram essa opção.

Durante muito tempo estive incluída nesse grupo. Na verdade, com 20 anos eu dizia que seria mãe aos 30, independente de ter ou não um parceiro. Com 30, eu já tinha um companheiro legal, mas achava que ainda não era hora. Com 32, iniciamos algumas  tentativas e como as naturais foram infrutíferas, tomei a decisão de não ter filhos, porque me parecia que não tinha muito instinto maternal mesmo, já que achava as crianças lindinhas, porém não tinha paciência pra ficar 24 horas em torno delas.

Um pouco antes de fazer 36, eu e meu marido tivemos uma conversa séria e decidimos tentar um tratamento, muito mais pelo nosso medo de arrependimento do que propriamente por vontade de ter um filho naquele momento. Eu continuo achando que a natureza é cruel com nós mulheres, porque temos que ter filhos nos nossos melhores anos. Se pudesse adiar, teria deixado pra ser mãe lá pelos 45, mas infelizmente nessa idade as possibilidades são muito menores. Engana-se quem diz que hoje a mulher pode ser mãe quando quiser. Com seus próprios óvulos, apenas um pequeno percentual consegue engravidar depois dos 40.

Pois bem, concordo com quase tudo o que foi dito na matéria da Zero Hora. Não ter filhos simplifica bastante a vida. Eu diria que, se você tiver saúde, não tendo filhos a sua vida vira uma "barbada". Você pode, por exemplo, decidir trocar de profissão aos 40, sem grandes traumas ou medos. É possível viajar muito mais, estudar mais, ler mais livros, todas coisas
que amo fazer. É possível chegar em casa, depois de um dia extenuante de trabalho, se atirar no sofá e não fazer absolutamente nada. Ou decidir, de última hora, ir naquela última sessão de cinema. Acredito até que um casamento tem muito mais chance de dar certo sem filhos, porque você pode se dedicar quase que inteiramente àquela relação. Enfim, acredito que é possível ser plenamente feliz sem filhos. Eu era bastante feliz e acho que, tirando alguns momentos de pressão familiar, continuaria sendo bem feliz.

Todavia, posso dizer que a experiência de ser mãe mudou quase que totalmente a pessoa que eu era. Poderia até dizer que me tornou uma pessoa melhor, mas isso faria parecer que mães são mulheres melhores, o que não é uma verdade absoluta. Ser mãe foi, pra mim, sim, a experiência mais impactante pela qual passei em termos de amadurecimento pessoal. Ser mãe me tornou mais desprendida, mais tolerante, muito menos egoísta. Ser mãe me tornou menos impulsiva e mais corajosa. Não aquela coragem que me fez saltar de paraquedas em uma ocasião, e sim aquela coragem pra falar o que me incomoda ou pra calar diante do perigo. Ser mãe me tornou mais preocupada em fazer a coisa certa, mesmo que seja a mais difícil. Ser mãe me ensinou a cuidar mais de mim mesma, para que eu tenha condições de cuidar de outra pessoa. Ser mãe faz a gente ser menos filha. Fez sentir-me verdadeiramente adulta e orgulhosa de mim mesma, ao ver que sou capaz de cuidar de alguém que depende de mim.

O próprio significado da palavra felicidade muda quando a gente é mãe e é por isso que não vemos muitas mães arrependidas por aí. Há dias em que você não dorme direito, não come direito, não tem tempo pra si, mas sente uma espécie de "redenção" em tudo isso. Você faz coisas que não são pra você sem esperar nada em troca e esse é pra mim o maior significado de amor verdadeiro. E sendo bem honesta, eu jamais tinha sentido algo assim antes de passar pela experiência da maternidade.

Então, me perdoem aquelas que são felizes sem serem mães. Eu realmente acredito na felicidade de vocês. Porém, agradeço todos os dias por ter tido a oportunidade de passar por essa experiência. E não é porque acho meu filho lindinho e especial (como todas as mães acham). É porque ele me ensinou que se doar pra alguém não é sacrifício, mas uma das formas mais plenas de felicidade.

Um comentário:

Luciano Pillar disse...

Sei como é não ser pai. E sei como é ser pai e padrasto.

Resumidamente, criar e participar na educação de um ser humano, vivenciando o tipo de conexão amorosa (indescritível) que acontece é algo com um valor e uma recompensa além do esperado antes dessa experiência.
Não é fácil, mas é maravilhoso. E a experiência de amarmos profundamente alguém e vê-lo transformar-se em uma pessoa independente, que não precisa mais de nós e não existe para e por nós, é um crescimento inenarrável. Amar e se desapegar. Esse é o grande ensinamento.

Abraços à autora e aos leitores.
Luciano