Quando eu tinha 5 anos dizia que teria três filhas. Decerto tinha alguma amiga com duas irmãs e achava lindo. Até então
eu era filha única e achava uma chatice não ter irmãos.
Com 18, eu dizia que seria mãe
ainda que não encontrasse um pai. Na realidade eu nunca tive esse sonho de
casar, ter um marido e cozinhar pra ele. Mas ainda sabia que queria ser mãe...
de pelo menos uma criança.
O tempo passou, eu escolhi
trabalhar em uma profissão na qual passava longos dias e finais de semana
sentada em frente ao computador. O tal pai também não se fazia presente e era
uma época em que não se podia comprar material genético pela internet. O sonho
de ser mãe foi ficando esquecido.
Lá pelos 30, o pai apareceu e nós
estávamos felizes levando uma vida despreocupada. Trabalhávamos bastante, eu
corria, ele jogava o voleizinho, férias viajando pro exterior, feriadões de
viagens locais, trilhas no meio do mato e até, de vez em quando, almoçando (crianças tapem os ouvidos) sorvete. A gravidez não vinha
e eu nem sabia mais se valia a pena ter um filho num país em que provavelmente
ele teria muito menos oportunidades do que tive. A vida estava boa, eu não
tinha do que reclamar.
Então, muito mais por medo de
arrependimento futuro, nós tomamos uma decisão: faríamos um tratamento, uma
única tentativa de ter um filho. Se não desse certo, tudo bem. Se desse,
tudo bem também.
Deu muito certo.
Não fui daquelas criaturas que
"curtiu" a gestação. Pra mim ela era um mal necessário pra que o bebê
nascesse. Achava legal ver a minha barriga mexendo pra lá e pra cá como se
tivesse um alienzinho nela. Mas, no resto, tudo me incomodava: não poder
correr, não poder caminhar rápido, não conseguir dormir muito tempo na mesma
posição, ter que apoiar as pernas pra trabalhar, comer só um pouquinho e já sentir o estômago estourando.
Meu primeiro filho levou longas 40
semanas e 3 dias pra decidir vir ao mundo. E quando ele finalmente nasceu eu percebi
que, não importa o que te digam, você nunca está preparada pro que vem a seguir.
Quando ele nasceu, senti um misto
de orgulho e medo. Orgulho de ver aquela coisinha linda, perfeita, bebezinho de
comercial de fraldas descartáveis na minha frente. Medo porque ele chorava... e
como chorava. E aí, você olha pro lado e percebe que aquela coisinha é sua
responsabilidade. Não tem ninguém pra chamar, você vai ter que se entender sozinha
com ele.
O meu primeiro mês como mãe foi
narrado aqui: http://anelisec.blogspot.com. br/2011/04/diario-de-30-dias- como-mae.html
. Hoje, olho pra trás e lembro de tudo rindo, até porque ser mãe é que nem
videogame, o nível 1 é o desafio básico, e conforme aumenta o nível, aumenta o
desafio... Mas, sério, na época eu ainda estava procurando a felicidade suprema
que as pessoas descreviam. Porque, sim, o amor é imediato e ele existe desde o
primeiro instante em que você olha pra aquela criaturinha. Mas entender o significado de
felicidade sendo mãe demora um pouco mais.
Os meus filhos nunca foram
bonzinhos. Não dormiam a noite toda. Eram exigentes e eu não sou dada a ler
como pais franceses educam seus filhos.
Eles faziam manha. Tinham refluxo.
Vinham dormir na cama da gente. Teve uma fase em que o Fê só comia arroz com
feijão... e desde que o feijão ficasse separado do arroz. Empacavam no meio da
rua. Destruíram o sofá, os fios do telefone, da internet e da TV. E não adiantava arrumar a casa. Pra que mesmo arrumar a casa?
Hoje, sujam quatro mudas de roupa
por dia. Quando finalmente me sento depois de dar a janta pra eles,
pedem
suco. Querem o mesmo carrinho, ainda que outros 15 estejam por perto.
Chamam
às 3h, às 4h, às 5h da manhã. O mais novo ainda faz xixi na cama. Quando
estão juntos, eles se arrastam e rolam pelo chão. Reclamam do lanche.
Reclamam
do tema. Reclamam de não poder ver TV. Reclamam que querem minha
atenção. Querem me contar todos os detalhes do desenho que assistiram
pela milésima vez. Querem que eu assista o desenho pela milésima vez com
eles.
Metade do tempo estou
preocupada com a educação deles. Na outra metade, com o mundo que eles terão. Se
eles batem no coleguinha, digo “não se resolve as coisas com
briga”. Se eles apanham, tenho que ensinar a se defenderem. Se eles querem só
brincar de uma coisa, ensino a aceitar a brincadeira dos
outros. Se eles só seguem os outros, tenho que ensiná-los a ter opinião
própria.
Questiono-me diariamente se sou uma boa
mãe. Porque sempre parece que a minha foi muito melhor, que não dou
atenção suficiente pra eles e que, se eles mordem o colega, a culpa é
minha.