Durante muito tempo disse aos conhecidos que não expressaria minha opinião sobre o caso Geisy Arruda (a famosa estudante do vestido rosa da Uniban). Mas eis que li uma nota semana passada dizendo que a menina "depois de lutar para remarcar as provas de final de semestre, as perdeu devido às pressões do carnaval" e fiquei a pensar no quão emblemático o caso é. Digo isso, porque sabemos que a moça contratou advogados e que tem uma ação na justiça contra a universidade, ação essa, que tem grande probabilidade de vencer.
Em primeiro lugar, juridicamente falando, não há dúvida de que a menina sofreu dano moral. Ora, se a exposição pública e o xingamento público, sem falar na divulgação de vários vídeos pela internet não causam abalo moral, eu não sei o que causa. A universidade pode alegar que não tem culpa, que foi "culpa exclusiva da vítima" ou "fato de terceiro", mas, se pensarmos que os clubes de futebol respondem pelos danos em torcedores causados pelos tumultos das torcidas que saem do controle, igualmente, uma universidade que não oferece segurança suficiente aos seus alunos e que não impede que uma manifestação que deve ter iniciado com meia dúzia de abobados querendo "tirar onda" tome grandes proporções, responde, sim. Não precisa ser gênio ou ter o notório saber jurídico para chegar a essa conclusão.
A questão, no entanto, é um pouco mais profunda que isso. Doutrinariamente falando, a indenização por dano moral visa "restaurar o status anterior ao dano". Agora eu pergunto: será que se a menina pudesse escolher entre voltar a ser uma anônima estudante de turismo que trabalhava num mercadinho, sem nunca ter sofrido o que sofreu, ou entre ser uma celebridade que aparece na TV, desfila em escolas de samba, coloca megahair e ganha cirurgias estéticas, escolheria o que? Não é novidade que a sociedade parecer dar mais valor a um ex-BBB do que a um médico que corre de um lado para o outro num pronto-socorro.
Não estou aqui a defender a universidade, muito menos os criminosos (sim, criminosos) que a ofenderam ou a dizer que ela não deveria ganhar uma indenização, mas me parece que "retornar ao status anterior" aqui não é exatamente o objetivo almejado. Acredito que de um modo tosco, como é próprio dos nossos tempos, a sociedade já reparou o dano a essa menina. A gente aprende na faculdade que o real significado de justiça é "dar a cada um aquilo que é seu", mesmo que isso signifique não tratar igualmente a todos. Então, eu, que não vou decidir nada, nem sou formadora de opinião me pergunto: será que Geisy Arruda já não recebeu o que é seu?
Webex com LXC
Há 5 semanas
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