segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O pesadelo da gestão das pessoas

Se tem um assunto que evito abordar é trabalho. Tenho uma etiqueta pessoal que diz, que se já passo o dia inteiro em determinado lugar, ele não merece ocupar o meu tempo e o meu pensamento quando chego em casa. Escrever sempre foi uma espécie de terapia e falar de trabalho não faz parte dela.

Mas eis que meu amigo ForInti, cuja identidade manterei em segredo, tem um blog que fala sobre simplicidade em TI (Tecnologia da Informação). Num dia de muita inspiração, ele escreveu sobre IT Nightmares, texto que recomendo e que merece algumas reflexões.

Acredito e tenho fé que o grande problema das empresas é a falta de bons gestores de pessoas. Empresas subvalorizam o tema. E não estou falando só de empresas de tecnologia, que normalmente são formadas por dois sócios: um nerd sabe-tudo e um bom-papo que sabe vender. Estou falando de empresas em geral, sejam elas públicas ou privadas. As pessoas passam anos estudando técnicas de gestão de orçamento, de projetos, de motivação, mas não sabem como lidar com gente. Na prática, existem dois tipos de chefes: o frouxo amigão, que não tem controle de equipe e o durão que impõe medo. Engana-se quem pensa que o primeiro é amado e o segundo é odiado. Na prática os dois são odiados, porque nenhum dos dois sabe lidar com seus subordinados.

Pessoas são complexas e são diferentes. Algumas gostam de ser cobradas, gostam que o chefe veja o que elas estão fazendo, precisam disso pra produzir. Outras, são tão responsáveis que se um chefe agir desse modo, irá diminuir sua produtividade. Afinal, elas já passaram do jardim de infância e trabalham bem sozinhas. Há pessoas que gostam de contar seus problemas pessoais para o chefe e esperam que ele entenda. Há pessoas que detestam que ele saiba da sua vida particular e esperam que ele respeite. Mas talvez o maior erro seja tratar pessoas como "recursos". Pessoas não são microcomputadores ou impressoras que agem segundo instruções pré-definidas. Ok, talvez os indianos sejam. Mas não nós, latinos.

Já passei por inúmeros processos de implementação de técnicas de gestão e de qualidade nas empresas pelas quais trabalhei: ISO 9000, Reengenharia, CMM, PMI, COBIT, ITIL, só pra citar algumas. Muitas siglas. Todas esperam motivar os "recursos" através da implementação de padrões de documentação, de qualidade, de organização corportativa. Nenhuma enxerga a singularidade de cada membro desse time. Todas veem pessoas como recursos substituíveis. E elas pecam por isso. Ninguém gosta de saber que é substituível, mesmo o mais relapso dos funcionários. Os gestores precisam aprender a "perder tempo" ouvindo o que os seus subordinados tem a dizer e não simplesmente fazer aquela avaliação periódica de forma automática, suspirando e olhando no relógio. Aliás, a pior coisa pra um funcionário é perceber que está sendo cobaia de uma técnica de gestão motivacional.

Não, nenhum chefe é capaz de resolver todos os problemas. Provavelmente não conseguem resolver nem a metade. Mas todo mundo tem algo pra dizer. E como dificilmente as empresas vão encontrar um analista de fora pra relatar seus erros, a disponibilidade para ouvir é o primeiro passo para aprender a tratar as pessoas e aprender sobre os seus próprios erros. Sem técnicas. Só conversa.

Nenhum comentário: