segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Pitaco olímpico

Tenho bem mais interesse por esporte olímpico do que de futebol, então, apesar de não ser especialista, sinto-me habilitada para dar meus pitacos aqui de quatro em quatro anos.

Quem costuma acompanhar Olimpíada sabe que sempre se falou no baixo número de medalhas trazidas pelos atletas brasileiros relacionando tal fato à falta de investimento no esporte olímpico e à falta de infra-estrutura de treinamento.

Creio que esse mito foi definitivamente derrubado. Nunca se investiu tanto em esporte no país como no último ciclo olímpico, os sites de notícias não param de anunciar. O problema é que não basta só dinheiro. É necessário dinheiro bem empregado. Como somos campeões da modalidade de mau uso do dinheiro público, por que seria diferente no esporte? Nesse ano, foi montada uma superestrutura para os atletas em Londres. A pergunta é: de que adianta superestrutura dias antes dos jogos?

Iniciativas como bolsa-atleta são interessantes, mas o maior volume de dinheiro deveria ser investido mesmo em educação. E quando falo em educação, falo em escolas com infra-estrutura decente e não onde faltam até mesmo vidros e portas. Escolas que tenham computadores, mas também tenham quadras esportivas e ofereçam esportes como atividades extraclasse aos alunos. Aliás, que ofereçam outras atividades pra quem também não gosta de esporte, como música. Isso sim, traria a transformação social que se almeja, porque colocaria foco na cabeça de crianças e adolescentes que hoje estudam em um turno e no outro ficam por aí. E desse volume de gente é que uns poucos se sobressairiam e aí, sim, teriam apoio pra fazer disso uma profissão.

Mas isso é sonho.

A realidade é que tivemos bons e maus exemplos nesses últimos jogos. Não vou falar aqui de atleta que amarela, porque em toda seleção há atletas que falham. O nosso problema é ter poucos atletas bons o bastante pra ganhar medalha. Se o volume fosse maior, a falha de um ou de um time, não teria tanto peso.

Talvez seja cedo para dizer, mas me parece que o boxe está fazendo bom uso do investimento. Saltamos de nenhuma representatividade para 2 medalhas e outras tantas quartas de final. O judô parece ter feito uma preparação adequada e também teve resultados bem mais significativos, principalmente no feminino, do que em outros jogos.

Já não se pode dizer o mesmo da natação. Creio que o único nome novo com representatividade surgido nos últimos quatro anos (apesar de não ganhar medalha) foi Bruno Fratus. Quase a totalidade da delegação piorou seus tempos pessoais nessa olimpíada. Isso só pode significar uma coisa: preparação mal feita, afinal a maioria dos atletas costumam melhorar marcas pessoais nos jogos. Se quase uma delegação inteira piorou é porque algo está errado.

Ginástica é um caso a parte. Existe uma richa na confederação da categoria formada pelos atuais dirigentes, que defendem que o monopólio do esporte permaneça com determinados clubes (como o flamengo) e os antigos, que defendiam a manutenção de uma seleção permanente. Quando houve a mudança de dirigentes, os técnicos estrangeiros foram embora, o que pode explicar a questão da ausência de renovação na seleção feminina. Aliás, achei muito legal a medalha de ouro não ter saído de um desses clubes de peso (lembrem-se que os irmãos Hypólito e Jade Barbosa são atletas do flamengo) e sim de um atleta que há bem pouco tempo só recebia apoio da prefeitura de sua cidade. Mostrou que o atleta pode ser vencedor, apesar da sua confederação. Antes da competição iniciar quem entende de esporte sabia que se alguém tinha alguma chance na ginástica era o Zanetti e não o Hypólito.

Lembro que uma vez Oleg, o ucraniano que treinava a seleção feminina de ginástica, ter dito que não se fazia uma seleção de ginástica com 5 meninas boas, já que as lesões no esporte são muito comuns. Países como a China tinham 100 em condições, de modo que uma ginasta poderia ser substituída às vésperas da competição sem grande prejuízo. Talvez seja uma lição que a gente tenha que aprender em vários esportes.

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