domingo, 17 de agosto de 2008

Breve Comentário sobre a Olimpíada de Beijing

Não em expert em esportes. Sou apenas uma brasileira que acompanha Jogos Olímpicos pela TV desde 1984 e ao longo de 7 edições dos jogos aprendeu alguma coisa. Então, eu realmente fico aborrecida com as bobagens que ouço dos nossos narradores, repórteres e comentaristas nas transmissões. Não posso escrever todas as bobagens que ouvi nos últimos dias porque levaria até a próxima Olimpíada pra escrever, mas algumas eu tenho que comentar.

Por exemplo, os comentaristas não paravam de comentar que o insucesso de Diego Hypolito e Jade Barbosa era devido ao fato de esta ser a primeira Olimpíada da qual participaram. O que eles esqueceram é que esta também é a primeira Olimpíada de Cesar Cielo, da norte-coreana que ganhou a medalha de ouro do salto e do chinês que ganhou o ouro no solo também. Quem vai pra ganhar, ganha não interessa se é a primeira ou a décima-quinta vez. Aliás, como eles explicam então o fracasso da Daiane dos Santos? Afinal, não era a primeira Olimpíada dela.

Não acho que o resultado geral da ginástica tenha sido ruim. O Brasil começou um trabalho sério na ginástica há oito anos apenas. A geração que começou a usar esta estrutura cedo, com 5 ou 6 anos, idade em que os ginastas começam, deve ter hoje 12, 13 anos. Portanto, ainda não tem idade para participar de Olímpiada.

Vi uma entrevista com a chefe da equipe de ginástica brasileira hoje. Ela disse que o Brasil conta hoje com 14 centros de treinamento. São esses centros que garimpam os futuros talentos. Será necessário dar continuidade a esse trabalho por pelo menos mais 8 anos até dar resultados concretos. Não vai ser nem em Londres ainda. Basta comparar com o vôlei. O trabalho de desenvolvimento do vôlei começou nos anos 80. E tirando a medalha de 1992, a seqüência de resultados positivos só começou a ser sentida nesta década. Foram necessários, portanto, 20 anos de trabalho pra estarmos entre as melhores equipes na quadra e na praia, como somos hoje.

Claro que existem os fenômenos. Daiane dos Santos, por exemplo, começou aos 12 anos e não tinha a estrutura de hoje. Se ela tivesse 5 anos e começando agora, seria difícil competir com ela no futuro.

Outra grande bobagem foi a aposta da imprensa em Thiago Pereira por causa das 6 medalhas do PAN. PAN nunca foi balizador pra Olimpíada, basta olhar pra quais países ganharam medalhas na natação em Beijing. Apenas EUA e Brasil das Américas. E os EUA sabidamente mandam a equipe B ou C pro PAN. Então, pra saber se alguém tem chances reais de medalha, por favor, olhem os tempos em comparação com o recorde mundial. Qualquer atleta que faça 3 ou 5 segundos a mais que um recorde mundial num PAN não vai ter a menor chance numa Olimpíada com ou sem Michael Phelps.

César Cielo também não é resultado de investimentos em natação no Brasil. Era um guri talentoso que incentivado por Gustvo Borges (que graças a Deus parece ser inteligente o bastante pra enxergar que a estrutura dos EUA faz diferença) teve a coragem de abandonar a vida aqui porque sabia que jamais seria campeão olímpico sem foco e sem treinamento adequado. Lembro que durante a euforia do PAN, um único comentarista do SportTV comentou que o tempo do Cielo quando ganhou os 50m livre era tempo bom o suficiente para credenciá-lo a uma Olimpíada.

Não somos potência olímpica e não seremos enquanto o Brasil não resolver outros problemas mais graves como saúde e educação. Nas escolas públicas as crianças não têm aula de educação física, sejamos sinceros. O que as professoras fazem é dar uma bola aos guris e uma corda (de pular) pras gurias. Nas escolas particulares surge outro problema: nenhum pai de classe média aconselha o filho a ir pra natação ou atletismo. Conheço alguns casos de pessoas que seriam bons atletas, mas optaram por uma faculdade quando chegou o momento de fazer uma opção.

Além disso, existe a cultura futebolística. As emissoras de TV passam o campeonato paulista da série B em rede nacional e não passam uma partida de basquete. Agora para futebol, seja de campo, de areia, de salão ou o tal de showbol, sempre tem espaço. Aliás, basta olhar os pais com seus filhos no domingo de manhã num parque qualquer. A criança mal sabe andar e o pai já está lá com uma bola pro coitado chutar. Futebol no Brasil é praticado pelas crianças que moram na Vila dos Papeleiros e pelas que moram na Bela Vista. E provavelmente 1 entre 15 pais incentivaria um filho a entrar pro vôlei ou pra natação, ao invés da escolinha de futebol.

Nas Olimpíadas, o Brasil é o país da vela. Nas últimas 7 edições foram 12 medalhas, 6 de ouro. Estranhamente, um esporte caro em um país subdesenvolvido, que durante muito tempo foi praticado por filhos de boas famílias que podiam se dar ao luxo de comprar os barcos e só competir. Hoje, com a regra do COB que divide os recursos da lei Agnelo Piva entre as modalidades esportivas de acordo com o seu desempenho, existem vários programas sociais da vela espalhados pelo país.

Em tempo: antes dos jogos começarem eu anotei 12 medalhas para o Brasil. Fiz uma estimativa pensando em 3 do vôlei (de quadra e de praia), 3 do judô, 1 do futebol feminino, 1 da vela, 1 da ginástica (eu acreditava no Hypolito), 1 do atletismo (Maurren Maggi ou Fabiana Murer), 1 da natação (eu achava que o Cielo ou o Kaio Márcio podiam ganhar um bronze) e 1 de algum atleta que não é muito conhecido e ninguém espera. Até agora estou bem próxima... acertei as 3 do judô e a derrota do Hypolito foi compensada pelo ouro do Cielo.

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