sábado, 17 de abril de 2010

Trilha Inca - Parte 1

Faz muito tempo que eu quero falar sobre a trilha inca, mas faltava coragem. Se você procurar no Google,  verá que existem bons sites por aí que falam tudo em detalhes, então me pareceu que o que quer que eu dissesse seria repetitivo e incompleto. Aviso desde já, então, que essa descrição será muito mais sobre impressões pessoais do que um guia orientativo.

Pra começar: o que é a trilha inca?
É um caminho construído nos tempos do império inca que inicia no chamado Km 82 da ferrovia Cusco/Quillabambae e vai até Macchu Picchu, no Peru. A rota normal é percorrer seus 42 Km em 4 dias. A maior parte do caminho é composto por pedras como você observa ao lado. Na minha opinião, nenhuma outra trilha que fiz ou que acredite que farei é comparável.

Como ir?
O ponto de partida é a cidade de Cuzco, no Peru. Todas as excursões para a trilha partem de lá. Você não poderá chegar e se aventurar sozinho. É necessário que esteja em um grupo acompanhado de guia. Existem normas com relação a número de pessoas por guia, inclusive, assim como número máximo de pessoas na trilha por dia. E mesmo que fosse permitido você teria que carregar montanha acima, em uma altitude que varia de 2.600m a 4.200m, além dos seus pertences, barraca e comida o que seria um peso extra considerável.

É possível contratar a empresa quando você chegar a Cuzco que é o ponto de partida da expedição ou já sair aqui do Brasil com tudo certo. Nós optamos por essa segunda opção, apesar de ser um pouco mais cara. Tínhamos as reservas e os dias certos para cada coisa, não poderíamos correr o risco de chegar lá e não conseguir encaixe em nenhum grupo naquelas datas.

O que você vai precisar

Em primeiro lugar você deve levar uma mochila, dessas de trilha. A minha tinha 45 litros e levei o mínimo. O aconselhável é uma um pouco maior, com uns 60 litros. A mochila deve ser impermeável. A minha era e mesmo assim, no último dia, molhou. Se você estava em um hotel e retornará para ele, os hotéis guardam a bagagem extra, estão bem acostumados. É importante que a mochila tenha bolsos para você colocar a garrafa de água. Se não tiver, você vai ter que adquirir um "porta-garrafa". Na primeira parada antes da trilha em Ollataytambo você encontrará dúzias deles. Aliás, nessa parada, também poderá adquirir um bastão de caminhada que vai lhe auxiliar muito nas subidas. Tudo é bem barato, acho que não chega ao que seria o equivalente a R$ 5.

Será necessário, ainda, um saco de dormir que suporte temperatura negativa. Existem lojas de aluguel em Cuzco, o mais fácil é alugar lá, eles conhecem e já lhe indicam o correto. Na rua que fica em frente à Praça das Armas há várias lojinhas de aluguéis de utensílios para a trilha.

Ainda que as refeições sejam responsabilidade da empresa que estiver lhe levando, é bom ter como extras chocolate e barrinhas de cereal. Você vai gastar bastante energia.

Também é aconselhável levar purificador de água. São umas pastilhas que se compra em farmácias (nós levamos daqui do Brasil inclusive) e se coloca 1 pastilha em cada 2 litros de água. Em hipótese alguma beba água da trilha sem fervê-la ou usar as pastilhas.

Nem sempre será possível tomar banho. Então, é recomendo aqueles lencinhos de limpeza para bebês que se encontra nos supermercados.

Com relação às roupas, leve umas 2 calças de tactel, umas 3 camisetas de dry-fit ou material similar, uma capa de chuva e um casaco mais grosso com capuz(que eu usava de travesseiro à noite). Leve meias de sobra, pois elas podem molhar e no máximo dois calçados. Eu levei ainda um blusão de lã que usava de noite junto com o casaco. Durante a caminhada você não sente frio, o problema é quando para.

Não esqueça da lanterna. Você só verá eletricidade de novo no acampamento do terceiro dia. Aliás, banho quente também.

Aclimatação
É totalmente desaconselhável chegar em Cuzco e partir para a trilha no mesmo dia. O ideal seria ficar na altitude durante uma semana, se aclimatando, para só depois partir. No entanto, é possível chegar em um dia pela manhã e partir para a trilha no dia seguinte, como fizemos. Você só vai se "arrastar" nos primeiros dois dias. No terceiro dia de trilha já fica um pouco melhor.

O primeiro dia

Cedo pela manhã, você sai de Cuzco e pega um ônibus que lhe leva até Ollataytambo. Ali é uma espécie de ponto de encontro para últimas providências, onde guias e carregadores se encontram com os grupos. Os carregadores de trilha são profissionais bem remunerados para os padrões peruanos, inclusive, chegam a ganhar 40 dólares por dia. A questão é que, carregando 25 quilos nas costas (o máximo permitido), a aposentadoria deve chegar bem cedo.

Depois disso, o ônibus segue por uma estradinha estreita e que dá medo até o Km 82. São aproximadamente 14 Km de Ollataytambo até esse lugar, conhecido como Piscacucho, mas parece mais. Ali todo mundo desce e passa pelo posto de fiscalização. Então, atravessa-se a ponte sobre o Rio Urubamba que marca o início da trilha. É um dos momentos mais emocionantes do trajeto, perdendo só pra vista de Macchu Picchu da Porta do Sol no último dia e do banho quente que você vai tomar no hotel em Águas Calientes na volta da trilha.

O primeiro dia é relativamente leve. Caminha-se cerca de 11Km. Você não caminha sobre pedras, mas sobre uma estrada. Dependendo do seu grupo, começará a caminhar após o almoço, inclusive. A trilha inicia a 2700 m de altitude e nesse primeiro dia subimos apenas até 3000 m. Durante a tarde, tivemos duas pequenas pausas pra descanso. O rio nos acompanha ao lado em grande parte do trecho em contraste com as montanhas, num cenário bem bucólico como o da foto lá de cima. E avistamos o primeiro site inca ao longe: Llaqtapata.

A parada pode ser num acampamento (Wayllabamba), mas a nossa foi um pouco antes, no pátio de uma das casas de moradores da região. Não sei se dá pra chamar exatamente de pátio, porque ali coube umas 12 barracas, além da tenda restaurante. Não há possibilidade de banho nesse primeiro dia. O banheiro nada mais é do que uma casinha com um buraco no chão. No entanto, cabe lembrar que o clima da montanha é relativamente seco, então você praticamente não transpira. O desconforto acaba não sendo tão grande assim e com os lencinhos umedecidos você toma um "banho de gato".

Na refeição noturna, pipoca, peixe e até uma sobremesa quente típica, que não agradou muito, não. Bebemos muito chá de coca durante toda a caminhada e ele sempre era servido após as refeições. Dorme-se cedo. Às 9h da noite, todo mundo já está na sua barraca, porque o despertar em torno das 4h da manhã. O segundo dia é o mais difícil e por isso é preciso acordar cedo. Mas sobre ele, da próxima vez.

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