O segundo dia
No segundo dia fomos despertados ali pelas 4h30min da manhã. Desmontamos as coisas, juntamos sacos de dormir na mochila e tomamos nosso café da manhã na tenda refeitório. Mais uma vez fomos avisados de que o dia seria difícil. Eu achava que tinha entendido e já estava achando o papo chato, inclusive.
Na primeira etapa do dia, seguimos pela trilha, ainda sem degraus. Um córrego nos acompanhava. Subimos por umas 2 horas. Saímos de uma altitude de 3.700m pra chegar a 4.200m. Enquanto os degraus não começam você acha que tudo está bem. Quando começa a ver que pra cima é só degrau começa a bater certo desespero. No meu caso foi vontade de chorar e não propriamente de alegria. Como estávamos bem mais pra trás que o resto do nosso grupo, não conseguimos usufruir do primeiro descanso. Quando chegamos lá, o grupo já estava partindo. Nosso grupo era formado em grande parte por intercambistas na faixa dos 20 anos que estavam há meses na altitude. Nós éramos os velhinhos do grupo, junto com outro casal de brasileiros e um argentino solitário. O outro casal de brasileiros, no entanto, foi mais esperto que nós: contrataram carregadores para as mochilas, de modo que não tinham os 12 quilos nas costas.
Na segunda etapa da manhã foram praticamente só degraus, com muitas árvores em volta como se fosse "ladeira acima". Na minha opinião foi a parte mais difícil da subida. Mais até do que o trecho final. Você não vê o que há em cima, só vê degraus. Terminada essa parte, o grupo fez uma parada para um lanche reforçado antes da parte mais difícil, acima de 4.000m, com muito vento e frio.A partir dali, a trilha eleva-se abruptamente em direção ao que chamam de primeira passagem "Warmiwañuska (passagem da mulher morta) a 4.200 m. Venta bastante neste local e o frio é intenso devido à altitude. Quando chegamos lá, nem nos arriscamos a sentar. Apenas admiramos a beleza em volta, picos com neve. Não ficamos lá em cima mais do que 30 minutos (a foto ao lado mostra a subida final da trilha, foi tirada do ponto mais alto). Depois, apenas descida até o acampamento.
A partir de Warmiwañuska a trilha é marcada por grandes descidas e algumas pequenas subidas. Alguns trechos possuem calçamento original inca. Não me lembro de ter subido nesta tarde, apenas descido. Foi até fácil, depois da manhã.
Paramos num acampamento chamado Pacaymayu. Era cedo ainda, tivemos almoço em torno das 4h da tarde e janta às 7h, à luz de velas. Foi com lanterna também que conseguimos chegar na barraca. Nada de banho também nesse dia. Havia um banheiro, mas sem luz elétrica, de modo que o banho seria frio. Na realidade, gelado, pois a água vem dos córregos da redondeza, formados por degelo dos picos. Até tentei, mas depois cheguei a conclusão que os lencinhos úmidos resolviam o problema. Foi a noite mais fria, mas não passamos frio. Dormi com blusa de lã e, obviamente, dentro do saco de dormir que alugamos em Cuzco.
O terceiro dia
Dizem que o terceiro dia é o mais bonito. Primeiro, porque ingressamos na chamada selva peruana. Segundo porque passamos por vários sítios arqueológicos. Não estávamos com sorte. Amanheceu com uma névoa que nos acompanhou até a meia-tarde.
Logo após a saída do acampamento, nossa primeira parada foi no sítio de Runkuraqay (foto ao lado). Runkuraqay ("pilha de ruínas") está a 3.850 m de altitude. Por causa de sua posição e da disposição de seus compartimentos, acredita-se que o edifício tenha sido um posto para os viajantes que seguiam a trilha até Machu Picchu. Tinha áreas com dormitórios para os viajantes e instalações de estábulo para seus animais domesticados.
Umas 2 horas mais de caminhada e chegamos a Sayacmarka, ainda antes do almoço. Dentro da cidadela existem diversas construções feitas com certa complexidade por terem sido adaptadas à forma da montanha, incluindo-se um aqueduto de pedra que deve ter levado água para o local no passado. As paredes são sólidas e a forma da fortaleza pode ser vista facilmente de longe. Acredita-se que o local possa ter sido um quartel ou prédio público, devido à ausência de terraços.
Após o almoço, entramos propriamente na selva peruana. A trilha se torna mais fácil e plana. Passamos até por pequenas cavernas. Pela metade da tarde chegamos a Puyupatamarka ("lugar sobre as nuvens"). O lugar está a 3.680 metros de altitude. Estas ruínas estão numa área de onde visualmente é possível controlar um amplo território e possivelmente foi um importante núcleo administrativo e religioso. Em dias claros, se consegue ver até a montanha Machu Picchu dali. As nuvens mais baixas do que você formam um bonito visual com as montanhas (foto ao lado).
A segunda metade da tarde é só descida. Descemos de 3.680m até o acampamento de Wyñaywayna que está a 2.650m. Muitos degraus, a ponto de deixar as pernas trêmulas no fim do dia. Bem pertinho do acampamento estão as ruínas. Wiñaywayna significa jovem para sempre e também é o nome quéchua de uma espécie de orquídea comum nas redondezas. Neste grupo arqueológico se encontram diversas construções bem trabalhadas, entre elas se destaca uma na parte superior conhecida como torre, uma sucessão de dez fontes rituais do lado direito que são clássicas em todos os povoados importantes e também o setor agrícola com grande quantidade de terraços artificiais. O acampamento de Wyñaywayna é o melhor de todos. Ali já há luz elétrica e um refeitório coletivo com bancos e cadeiras. Os banheiros possuem chuveiros quentes, o que traz uma alegria muito grande a todas as mulheres. Claro, você paga pelo banho, mas ninguém reclama. O jantar do último dia é caprichado e com luz elétrica. Tem até gelatina!
O quarto dia
Dormimos muito mal na terceira noite. Começou a chover forte e no meio da noite nossa barraca estava inundada. A solução foi juntar tudo e ir para o refeitório que era o local mais seco disponível. Muitos dos nossos colegas de grupo fizeram o mesmo. Rezamos para a chuva parar, mas nada. O quarto dia começou com ela. Seriam 2 horas e meia bem agradáveis de caminhada até Machu Picchu, não fosse a chuva. Já estávamos aclimatados e o terreno era só descida leve. Mas era muita chuva o que tornava tudo muito escorregadio.
Com mais ou menos 2 horas de caminhada, a trilha se estreita em degraus que conduzem acima até uma pequena estrutura de pedra. É Intipunku ("porta do sol") situada à 2.650 metros de altitude e a 4Km de Macchu Picchu. Em dias claros, dali se vê a cidade lá abaixo. Pudemos comprovar isso, quando voltamos até esse ponto no dia seguinte, ensolarado. Acredita-se que a Porta do Sol fosse uma espécie de alfândega para controlar a entrada de quem chegava à cidade.
Quarenta minutos mais de caminhada e estamos na cidade. Chegamos lá cedinho, na hora de abertura dos portões. A trilha termina com uma visita guiada à cidade, onde os guias explicam as principais construções. A cidade é linda por si só, mas a visita faz você entender a função de cada construção o que só faz a sua admiração crescer.
Quando a trilha termina, você compra tickets para o ônibus que lhe leva até Aguas Calientes, o povoado mais próximo. São uns 40 minutos de viagem. Dali, poderá tomar o trem de volta até Cuzco ou relaxar nas águas termais. Nós ficamos uma noite em Aguas Calientes. O povoado é bastante simpático e tem bons restaurantes a preços razoáveis. Nosso hotel ali tinha duas coisas bem importantes: um excelente chuveiro quente e camas com ótimos colchões. Também conseguimos mandar lavar e secar algumas roupas. Mesmo com a mochila impermeável, passou muita água.
Apesar do cansaço e das privações, a trilha deixa boas recordações e é uma experiência única. Se tiver a chance, não deixe de fazer.
Webex com LXC
Há 5 semanas
3 comentários:
Acho que a Ane é meu idolo no momento, estou pensando em voltar e fazer a trilha que eu não consegui antes.... me convenci da viabilidade do passeio..valeu Ane...
Eu e meu marido faremos a trilha daqui a alguns dias e seu blog nos esclareceu muitas dúvidas. Estamos um pouco tensos, mas acreditamos que vamos conseguir. Essa de ficar sem banho foi terrível, mas....nada que nos faça desanimar!!
Obrigada Ane e parabéns pela sua conquista!!
Eu e meu marido faremos a trilha daqui a alguns dias e seu blog nos esclareceu muitas dúvidas. Estamos um pouco tensos, mas acreditamos que vamos conseguir. Essa de ficar sem banho foi terrível, mas....nada que nos faça desanimar!!
Obrigada Ane e parabéns pela sua conquista!!
Postar um comentário