segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pra espantar turista

Toda cidade que quer ser turística tem que aprender, antes de mais nada, a tratar bem do turista. Apesar de na maioria das vezes sermos muito bem recebidos, todo mundo já passou por algumas situações que são pra espantar turista. Abaixo relato algumas das nossas aventuras.

1. Tenho o hábito de colecionar imãs de geladeira. Então, sempre que viajo pra um lugar novo, procuro trazer um da cidade que visitei. Em Barcelona, parei numa banca de revistas que também vendia cartões postais e imãs. Eles estavam pregados no alto, em um lugar onde eu não alcançava. Olhei para um que gostei e pedi para o vendedor me alcançar para dar uma olhada. Quando já estava com ele na mão, enxerguei outro que achei mais interessante e pedi para ele me alcançar, pois tinha me decidido pelo outro. O vendedor, muito bravo, rosnou: então, por que pediu esse se queria levar o outro?

2. Ainda falando de vendedores: uma amiga relatou que estava em Roma, em uma loja com um balaio de roupas femininas em liquidação. Passou algum tempo olhando as roupas (e obviamente "pegando") como a gente faz no Brasil. Quando se decidiu, perguntou para a vendedora se poderia experimentar a peça. Muito mal-humorada, a mesma respondeu que peças na liquidação não poderiam ser experimentadas e nem trocadas depois. E complementou: vai levar ou não?

3. Quando fiz intercâmbio em Vancouver, no Canadá, fui jantar, certa noite com amigos brasileiros. Assim como fazemos no Brasil, sentamos, pedimos, comemos com bastante calma e depois de comer ficamos algum tempo conversando, sem muita pressa. Algum tempo depois, percebemos que a garçonete e a moça da recepção nos olhavam de um jeito estranho, mas não nos importamos muito. Descobri depois, falando com canadenses, que não é costume deles você ficar sentado, num restaurante após consumir. Deve chegar, pedir, comer e, se não estiver consumindo mais nada, ir embora.

4. Todo mundo comenta que franceses não gostam de pessoas que não falam francês. Eu não falo nenhuma palavra. Então, sempre pedia desculpas na hora de solicitar informações e perguntava se a pessoa falava em inglês. A um jovem, perguntei onde era a estação de metrô mais próxima. Ele me mandou para a direção oposta da estação, em uma vizinhança não muito amistosa, o que percebi cerca de três quadras depois.

5. A melhor de todas aconteceu em São José dos Ausentes: vimos uma placa de um restaurante/pizzaria no centro da cidade e resolvemos jantar lá. Não lembro exatamente o que pedimos, tenho a impressão que foi ala minuta ou algo assim. O restaurante era pequeno, mas arrumadinho. Fomos atendidos por uma senhora que era quem também preparava a comida. Sua neta de aproximadamente 8 anos também estava lá.

Só haviam duas mesas com fregueses. A comida era boa e levou o tempo normal pra ser servida. Até aí tudo bem. O problema começou quando começamos a comer. A menina ficou o tempo inteirinho com os bracinhos grudados na nossa mesa, perguntando de quando em quando se já havíamos terminado. Às vezes, ela alternava e ficava ao lado do pessoal da outra mesa, Mesmo com algumas "indiretas" deles, a menina não se tocava de ir dar uma volta e tampouco a avó, que estava ocupada assistindo a novela, a chamava.

Enfim, chegou uma hora em que finalmente terminamos. Enquanto aguardávamos a conta, pudemos perceber que, então, ela foi espantar o grupo de jovens que estava na outra mesa.

2 comentários:

forinti disse...

Tem países da Europa nos quais as leis trabalhistas são muito mais rígidas que aqui. Em Portugal, França e Itália, é praticamente impossível demitir um empregado.

Em Portugal, fui a uma loja de informática e pedi informações sobre um monitor. A vendedora apontou para uma pilha de caixas e disse que eu podia ver por minha conta. Um amigo entrou numa loja de canetas e pediu uma sugestão de presente; a vendedora disse simplesmente que "temos várias".

É, o Brasilsão não é tão ruim quanto alguns fazem parecer.

Luciano Pillar disse...

Nossos ancestrais viveram dezenas de milhares de anos em pequenas comunidades e este foi o ambiente que moldou nosso comportamento. Os outros grandes primatas continuam a viver assim. O problema é que, recentemente, ou há alguns milhares de anos, passamos a conviver entre muitas pessoas. Estamos moldados a viver entre conhecidos e, agora, o que mais tem ao nosso redor são desconhecidos. Acontece que a forma de tratar cada um deste grupos é quase diametralmente oposta. Então, uma pessoa comum, mais desavisada de sua realidade, tende a agir como os chimpanzés quando entre estranhos, especialmente aqueles que invadem seu território.